Arlindo Bellini
Deixar a Pátria para buscar outras terras se torna um ato de heroísmo. Seja por qualquer motivo ou não tendo com que se sustentar de onde nasceu e estava vivendo precariamente. Deixar tudo para trás é perder a última esperança, mesmo sabendo que para onde está seguindo seja una Pátria diferente, grandiosa, repleta do bom e do melhor. Nada se compara ao país onde nasceu. Lendo o livro escrito por Nadalete Maria Frassetto Gomes, emocionadamente pudemos encontrar depoimentos e relatos que extrapolam a razão, dado acontecimentos que machucaram, macularam a vida de quem era oriundo da distante e bela Itália, a terra de Dante.
“No dia 28 de novembro de 1889, Celeste Frassetto, sua esposa Giuseppina com seus quatros filhos: Giácomo Liberale, Francesco Guglielmo, Luigi Giácomo e Giuseppe, saíram de Biagio de Callalta e percorreram uma distância aproximadamente de trezentos quilômetros até o Porto de Genova e juntamente com tantas outras famílias embarcaram num vapor com destino ao Brasil. Celeste tinha quarenta e quatro anos, nascido em Nervesa em vinte e sete de julho de 1845, sua esposa nascida em Biancade, era sete anos mais nova e as crianças possuíam dez, oito, seis e quatro anos de idade quando atravessaram todo o Oceano Atlântico, com muitas promessas de uma vida nova e cheias de esperanças no Brasil”.
Assim a autora Nadalete descreve o início de uma das mais conhecidas famílias das que aportaram no Brasil, no Estado de São Paulo e mais precisamente naquela que até 1888 era apenas a Penha do Rio do Peixe, para depois, após aquele episódio que maculou o solo sacrossanto e abençoado pela padroeira Nossa Senhora da Penha, passar a ter o nome de Itapira. Impossível a gente ler um livro e não se aprofundar, mesmo que indiretamente, mas buscando detalhes necessários para poder saber mais um pouco do que nossos ‘nonnos’ falavam, mas sem explicar detalhadamente de como aconteceu aquela viagem que os trouxeram da Itália para o Brasil.
No livro Família Frassetto, editado em 2005, sob a égide de Nadalete Maria Frassetto Gomes, o leitor tem de tudo o que aconteceu com aquela família, cujos descendentes até os dias de hoje se orgulham em demasia em possuir em suas veias o sangue de quem não se opôs em deixar a Itália e se aventurar em mares bravios até atingir o continente em que o nosso Brasil está encravado. Apreciem quando a autora descreve o ‘Sítio Alegria’, adquirido com muito sacrifício e suor dos rostos.
“Meu avô Francesco Guglielme Frassetto” (por aqui se tornou Francisco Guilherme, aportuguesado) nasceu em 25 de fevereiro de 1881, na Itália, Comune Di Villorba, Província de Treviso e morando no Brasil há doze anos, somente aos vinte anos de idade, ele juntamente com seus pais e irmãos Giácomo, Luigi e Giuseppe conseguiram reunir economia suficiente para comprar a primeira propriedade. Eram terras que tanto seus pais sonharam. Localizada no Bairro Sapucaí, dentro do município de Jacutinga, Estado de Minas Gerais deram-lhe o nome de ‘Sítio Alegria’ e nesse local permaneceram trabalhando juntos por vários anos. O sítio possuía dez alqueires de terras, plantação de 14 mil pés de café e roças de milho, feijão e arroz. A casa de morada não era muito grande, porém o local onde se encontrava escondida entre muitas árvores fazia dela um recanto bastante acolhedor, o que deixou a bisavó Giuseppina tão emocionada a ponto de seus olhos se encherem de lágrimas, quando a viu pela primeira vez”.
Quanta emoção para aqueles destemidos imigrantes, que ao deixarem a Itália, um país de poucas proporções territoriais e regimes de governos nem sempre beneficiando sua população, ver diante de muita terra e una casa para abrigar todos, tirando-os do relento, de invernos imperiosos que aconteciam na Itália. Começaram a acreditar que o Brasil era o local onde estava uma nova terra prometida, se não por um Deus Superior, por governantes de outros pareceres que não os seus italianos.
Continuando a apreciar as páginas do livro de Nadalete, eis o que encontramos: “De um lado do rio, foi colocada a roda d’água que ativada, jogava água para as casas. O moinho ficava em uma casinha de tijolos e através da força da água que vinha do rio, um eixo era movido e fazia rodar uma grande pedra redonda sobre outra fixa e do mesmo tamanho. O milho colocado entre elas era triturado até se transformar em farinha (para nós o fubá). Possuíam o monjolo que também era movido pela água e usado para pilar os grãos de café ou de milho”.
Pela mesma a respeito da pequena propriedade rural os Frassetto. Mas, na mesma propriedade eles se tornaram comerciantes, quando vendiam o excesso do café e mantimentos colhidos no ‘Alegria’. Comercializavam também tecidos e vinhos italianos (só poderia ser, imaginem negociando vinhos de outros países como Portugal, França ou de países vizinhos com o Brasil). A propriedade possuía também um alambique, onde finíssima caninha era alambicada e comercializada. Um engenho de cana, máquina de beneficiar arroz e até mesmo uma pequena serraria, onde toras de madeira de lei eram desbastadas e transformadas em peças de mobiliários.
Já faz uns anos que me comprometi com a Nadalete, que ao ler o seu livro de resgate de seus ‘nonnos’ e ‘bisnonnos’, faria uma homenagem aos seus genitores: Lília Bartolomei Frassetto e Attilio Frassetto, um dos filhos do casal Eride Elvira Otoboni Frassetto (também conhecida por Elide) e Francesco Guglielmo Frassetto, pais também de mais os filhos Antônio, João Hermínio, Ernesto, Maria, Amábile, Yolanda, Irene, Juliano e Milena. Foram dez rebentos que aquele casal de italianos gerou, criando-os e educando-os primorosamente, tanto dentro do lar, como na religião de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tornaram-se cidadãos e cidadãs respeitados, conhecidos e de muitas amizades.
Attílio nasceu em 23 de janeiro de 1915 e seu falecimento ocorreu em 26 de agosto de 1986, contando apenas 71 anos de idade. Além de ter sido comerciante atacadista em nossa cidade e também no distrito de Eleutério, ao lado de seu genitor e de seus irmãos, manteve também um grande armazém de secos e molhados, ferragens, armas e munições, bebidas importadas. Attílio foi também vereador em nossa Câmara Municipal, por duas legislaturas, de 1/1/1948 a 31/12/1951 e de 2/1/1952 a 31/12/1955, atuando com lhaneza com o cargo que ocupou, eleito que o foi pelos eleitores que sufragaram o seu nome nas urnas naquelas duas eleições municipais. Fez parte também da diretoria do Lar São Vicente de Paulo.
Ao lado de outros itapirenses fez parte da diretoria do Educandário Nossa Senhora Aparecida, obra assistencial fundada pelo saudoso padre Matheus Ruiz Domingues. Membro efetivo da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, presidente do Clube de Campo Santa Fé e participando também do quadro associativo e da diretoria da Associação Comercial de Itapira. Como podemos notar, Attílio, como cidadão itapirense, pôde contribuir nos variados setores, sempre pautando pela retidão, dote herdado de seus honrados genitores. Attilio foi casado com a senhorita Lilia Bartolomei (de Jacutinga, Minas Gerais), filha do casal Maria Giovanetti Bartolomei e João Bartolomei, sendo seus irmãos Yole, Alfredo, Emilio, Gino, Gustavo, José e Júlio.
O enlace matrimonial de Lília e Attilio (depois de um severo e bem vigiado namoro, transformando-se em feliz noivado) aconteceu no dia 29 de dezembro de 1941, na Igreja Matriz de Santo Antônio, na cidade vizinha de Jacutinga, Minas Gerais, onde residiam os pais e irmãos da noiva. O namoro talvez foi iniciado, pois a família Frassetto, residindo em Eleutério, onde nasceu o menino Atílio, era mais fácil locomover-se até aquela cidade turística para namorar, no que resultou em casamento que perdurou por 45 anos, no que, infelizmente com o falecimento do esposo, o casal deixou de comemorar as Bodas de Ouro, que aconteceria em 1991. E daquela feliz e duradoura união conjugal, o casal Lília e Attílio teve três filhos:
Nadalete Maria, casada com Antônio Carlos Gomes, que são pais de Lígia Maria, casada com Francisco Assis Oliveira (de seu primeiro casamento teve os filhos Bruno, casado com Vanessa Venturini, pais de Maria Lucia e Helena; Rafael, casado com Nayara Baugarten Miranda, pais de João e Joaquim; Larissa, casada com Rafael Pegorari; Attílio, casado com Paula Alcici Gonçalves (que tem o filho Ian), são pais de Raj; Francisco Guilherme, foi casado com Maria Leonor Teixeira, que tiveram os filhos: Cristina, casada com João David Santos, que são pais de Francisco; Guilherme, foi casado com Júlia, que tem a filha Isabella; Mariana Teixeira, casada com Victor Granado Alves; Lilian, que foi casada com João Sarkis Neto, que tiveram dois filhos: João Marcelo; Liliane, casada com Marcelo Endrigo Cesto, que são pais de Lívia.
Podemos afirmar que até o presente momento (maio de 2021) aquele casal formado por Lília Bartolomei e Atílio Frassetto, que contraiu matrimônio em 30.12.1941, com o nascimento de seus três filhos, Nadalete, Francisco e Lilian, que também ao contraírem matrimônio, lhe brindaram com sete netos, sete bisnetos e quatro trinetos, o que bem poucos casais em feliz união conjugal conseguem obter tantas bênçãos de Deus em forma de sua prole e de seus descendentes. E segundo anotações da professora Nadalete, o casal Nayara e Rafael está na ansiosa espera do nascimento de Clara, para quando o mês de julho chegar.
Foi motivado pela leitura do livro Família Frassetto, de autoria da professora Nadalete, obra editada em 2005, que a presente história do estimado e saudoso casal Lilia e Attílio, mesmo de forma simplificada, pôde ser concluída. Mas para aqueles que gostam um pouco mais de saber sobre a história e a vida de muitas famílias italianas, uma boa é ler o precioso e bem composto livro da professora Nadalete Maria Frassetto Gomes, onde em suas 148 páginas, irão encontrar farto material, principalmente de seus ‘nonnos’, cujo casal formado por Erice Elvira e Francesco Guglielmo gerou os 10 filhos: Antônio, João Hermínio, Ernesto, Maria, Amábile, Attílio, Iolanda, Irene, Juliano e Milena.
Mais uma vez pedimos escusas pela demora da concretização da matéria em torno de uma das mais estimadas famílias de nossa terra, os Frassetto, estando incluído o casal Lília e Attílio. Com certeza ainda voltaremos a fazer algum comentário sobre o livro Família Frassetto, porém com referência à Revolução Constitucionalista de 1932, da qual o antigo casarão de dois andares, com residência e na parte térrea um bem montado armazém de secos e molhados, na passagem de tropas combatentes, saquearam e depredaram o estabelecimento, necessário que foi dos Frassetto entrar com ação indenizatória contra o Estado.
Sobre a autora: Nadalete Maria Frassetto Gomes, graduada em Matemática, Física e Desenho Geométrico pela PUC-Campinas e em Pedagogia e Administração Escolar pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ouro Fino. Foi docente nas escolas Elvira Santos Oliveira, Antônio Caio e Anglo, em Itapira, e diretora na Escola Pedro Rafael da Rocha, em Santa Gertrudes. Em sua narrativa Família Frassetto, ela relata a trajetória da família desde o momento em que Celeste e Giuseppina deixaram sua pátria, a Itália, e entraram no Brasil, acompanhados de seus quatro filhos. O caminho percorrido por eles, na busca de seus objetivos, é uma aventura repleta de medos, expectativas, sofrimentos e alegrias, que nos impressionam e surpreendem. São valores marcantes o amor e a dedicação à família, o trabalho, a religiosidade, a responsabilidade e sobretudo o empenho naquilo que acreditavam e que foram transmitidos de geração para geração.
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