Com um projeto iniciado ainda em 2017, o itapirense Antônio Rizola Neto, 63 anos, já colhe frutos expressivos e faz história na Colômbia. O atual técnico da seleção adulta de vôlei feminino coleciona enormes feitos para a modalidade do país vizinho, como a conquista do título da Copa Pan-americana na categoria sub-18 e a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. O mais recente deles foi o vice do Campeonato Sul-Americano deste ano, também no Peru, com direito a vitória sobre o Brasil na decisão – o time brasileiro precisava de um set para terminar em primeiro lugar -, desempenho que valeu a inédita classificação para o Campeonato Mundial.
À frente do projeto, Rizola Neto implantou uma filosofia de trabalho voltada à união das equipes e atletas, com foco em fortalecer e permitir a evolução do vôlei colombiano feminino a partir da melhora da qualidade técnica. Tudo isso somado à estruturação das categorias de base, para agregar atletas no time adulto. De férias após o vice Sul-Americano, o treinador esteve em Itapira para visitar familiares e concedeu entrevista à reportagem do Tribuna de Itapira na tarde de terça-feira, 28.
Rizola Neto atuou por 28 anos na CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e exerceu várias funções na entidade, entre elas o trabalho direcionado à formação e busca por novos valores. Ao fim do ciclo olímpico de 2016, o técnico encerrou o trabalho no Brasil e imediatamente recebeu convite para assumir o vôlei feminino da Colômbia. Ele conhecia muito bem o voleibol colombiano, assim como os problemas que enfrentaria ao assumir a incumbência. Em um primeiro momento recusou a oferta, mas após o acidente aéreo que vitimou quase todo time da Chapecoense, em Medellín, também em 2016, o olhar para a proposta mudou.
“Aquilo (acidente) foi um choque para todos, mas vi com outros olhos. O povo colombiano demonstrou solidariedade e união muito grande no país, com o Brasil e com os desportistas. Esse era um dos problemas que eu identificava na Colômbia”, contou o treinador, ao enfatizar o regionalismo muito presente no país vizinho, que impedia o crescimento e a evolução do esporte. “Mas pensei: esse país pode demonstrar união e vou buscar isso com eles”, completou.
O convite foi aceito e nas tratativas com os dirigentes da Colômbia, Rizola Neto pontuou as condições para iniciar o trabalho, entre elas, autonomia nas convocações e que as escolhas seriam técnicas e táticas. “Não levei nenhum brasileiro (na comissão técnica) porque queria fazer o que fazia no Brasil, ou seja, promover o crescimento dos profissionais que iriam trabalhar comigo”, explicou. Começou então todo processo diferenciado de reestruturação do voleibol no país, bem diferente daquilo que a Colômbia apresentava. O foco passou a ser mais velocidade e técnica de jogo.
O primeiro bom resultado veio ainda em 2017, com o título da Copa Pan-americana Sub-18, disputada na cidade de Havana, em Cuba. Foi a primeira vez na história que a Colômbia ganhou uma medalha de ouro em competições de voleibol. “Pedi para ser o técnico da base porque queria montar um time sub-18 para servir de reposição ou uma base para 2024”, reforçou o treinador, sobre o planejamento já visando as Olimpíadas de Paris, na França, daqui a três anos.
Segundo detalhou Rizola Neto, os três alicerces para o início do projeto foram união nacional em torno da modalidade, trabalho técnico com processo diferente e autonomia na tomada de decisões. “Tinha total apoio do presidente da Federação (Carlos Grisales). Ele me disse que tinha o sonho de ver a Colômbia participar dos Jogos Pan-americanos. Disse que não. Afirmei que levaria a seleção ao Pan e também às Olimpíadas. Ele me disse então que eu era mais loco do que ele pensava”, recordou o treinador.
O presidente que apoiava Rizola Neto e ofereceu todas as condições de trabalho morreu em 2018, vítima de câncer, logo após uma vitória sobre a Argentina nas classificatórias para o Pan – restava apenas uma partida para a confirmação da vaga. “Liguei para dar a notícia da vitória. A secretária atendeu e me comunicou do falecimento, mas disse que ele havia assistido ao jogo e que sabia que a Colômbia iria brigar pela classificação”, lembrou o técnico.
A classificação veio e na primeira participação da história do vôlei feminino da Colômbia nos Jogos Pan-americanos, a seleção conquistou a medalha de prata – perdeu para a República Dominicana na finalíssima – e ainda conseguiu outro feito histórico: vitória em cima do Brasil na semifinal. “Os resultados superaram minhas expectativas”, lembrou. O objetivo de formar uma base fortalecida se concretizou, tanto que do grupo vitorioso sub-18 de 2017, quatro jogadoras integraram o adulto na classificação para o Campeonato Mundial após o vice do Sul-Americano este ano.
“Essa base já está fazendo parte efetiva da equipe adulta”, contou o treinador, que após a implantação da nova filosofia de trabalho, reestruturou por completo a modalidade – as categorias sub-16, sub-18, sub-20 e sub-23 possuem técnicos próprios e todos são assistentes de Rizola Neto na principal. O brasileiro é o responsável pela coordenação do voleibol feminino de forma geral, tanto na preparação física quanto na parte técnica.
SEQUÊNCIA
Com os resultados expressivos alcançados, a renovação do contrato do treinador na Colômbia já vem sendo tratada. A equipe busca, no momento, um patrocinador para disputar o Mundial de 2022, que permita realizar uma boa competição. O foco principal continua sendo os Jogos Olímpicos de 2024, sendo que o Pré-Olímpico ocorre em 2023. “Em 2016, a Colômbia ocupava a 28ª posição no ranking mundial. Hoje estamos na 16ª. Foi o país que mais ganhou posições e será o único que vai participar do Campeonato Mundial pela primeira vez nesta edição”, detalhou.
Ao ser questionado sobre uma possível volta para trabalhar no Brasil, Rizola Neto garantiu estar totalmente focado na Colômbia. “Estamos no Mundial, mas ainda temos muito que crescer em vários aspectos, para atingirmos o patamar para estar em uma Olimpíada”, reiterou. Para o treinador, em termos de investimentos privados na modalidade, hoje a Colômbia está no patamar que o Brasil esteve há 40 anos. “Temos qualidade de trabalho, mas sem investimento privado. A Colômbia precisa crescer na visão empresarial do desporto”, destacou.
Segundo o treinador, a distância da família não é algo fácil, mas não lamenta e mantém o foco 24 horas por dia no trabalho. “Quando venho para Itapira aproveito cada minuto. Meu maior orgulho é ser itapirense, tenho muito amor por essa cidade”, concluiu. Rizola Neto retornou para a Colômbia já na quarta-feira, 29, onde retomou os trabalhos visando o próximo desafio: a participação inédita do voleibol feminino da Colômbia em um Campeonato Mundial.
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