Desde o início da pandemia as mulheres estão na linha de frente do combate à Covid-19. A reportagem do jornal Tribuna de Itapira conversou com a equipe da Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde de Itapira, composta em sua maioria por mulheres, e que desde o início da campanha de vacinação se desdobrou para cuidar dos cidadãos que passaram a receber o imunizante, desde janeiro do ano passado.

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Líder da equipe formada por 20 mulheres, a enfermeira Josemary Apolinário, que trabalha na área da saúde há quase 20 anos, conta que estar na linha de frente coordenando a campanha de vacinação contra covid-19 em um momento tão delicado como esse de pandemia, foi um dos momentos mais desafiadores da sua vida. “Esse foi um dos maiores desafios. A gente via as pessoas desesperadas pela vacina e não podia fazer diferença, tinha que seguir exatamente o que estava no informe (do programa estadual de Imunização). E isso sempre foi bem desgastante porque você sofre ameaças, as pessoas acham que você está privilegiando outras pessoas e não é assim. A vacinação da Covid foi a campanha mais intensa que a gente já teve. Foram dias de muita dificuldade. Teve dias de a gente até pensar em desistir, mas o que fazia com que eu tivesse força de continuar, era pensar, ‘eu quero salvar mais pessoas!’. E cada vacina aplicada, era mais uma pessoa imunizada. Quando a gente começou a ver o número de vacinados aumentando e o número de casos diminuindo, principalmente os óbitos, foi o que mais valeu a pena”, contou.

Josemary também falou que viveu um embate entre a vontade de superar a situação e o medo, principalmente por saber que ela ou qualquer pessoa da sua família podiam se contaminar. “O nosso papel como profissional de saúde é defender a população, fazer de tudo para que a população não adoeça, mesmo que as vezes a população não entenda muito isso. Mas a gente fica com medo, principalmente porque quando começamos a vacinar, nós que estávamos aplicando a vacina, ainda não tínhamos vacinado, a gente ficou bem exposto naquele momento, mas ainda assim, isso tudo valeu a pena, eu faria tudo de novo, é uma coisa que eu vou levar para a minha vida, faz a gente repensar muitas coisas”, contou.

A enfermeira acredita que as mulheres possuem a capacidade de zelar pelo outro, mas, mais do que cuidadoras, elas são estratégicas e planejadoras. “A mulher já tem com ela o dom natural de cuidar e principalmente nós da enfermagem, acho que a gente tem isso mais até exacerbado. Então é desafiador porque a gente deixa a casa, família e filhos. Para a vacinação dar certo, existe todo um processo a ser feito, o cadastro, conferência de documentos, registro no sistema. Para que tudo isso desse certo, várias vezes nós ficávamos até tarde da noite registrando, trabalhávamos também aos finais de semana, para que quando a pessoa fosse vacinar estivesse tudo certinho. Tudo isso contribuiu para que a vacinação desse certo e nós conseguíssemos atingir uma meta que foi excelente”, ressaltou.

Tayná Mendes Lago, enfermeira que atuou como voluntária no início da pandemia, na linha de frente e que, atualmente, está na equipe de vacinação, falou dos dilemas enfrentados no combate ao coronavírus nesse período. “A pandemia foi desafiadora para todo mundo, mas como enfermeira o fator da responsabilidade, tanto social quanto profissional, teve muito peso para mim. Atuei como voluntária, na linha de frente e o sentimento era de muito medo, afinal não tínhamos nenhuma perspectiva de melhora. Mas participando da campanha de vacinação pessoalmente pude sentir que eu e toda a minha equipe impactamos de forma significante a vida das pessoas e isso é muito gratificante e me motiva a fazer o meu trabalho da melhor maneira possível”, alegou.

Tayná ainda ressaltou a importância da campanha de vacinação e o papel das mulheres no enfrentamento ao coronavírus. “As vacinas salvam e já salvaram milhares de pessoas todos os dias e eu me sinto realizada por ter participado disso. E para mim não poderia ser diferente o resultado, já que as mulheres são a maioria na enfermagem, são milhares de técnicas, auxiliares e enfermeiras, que atuaram na linha de frente e salvaram vidas, tenho imenso orgulho em ser mulher e enfermeira”, declarou.

Marisa Genaro Lellis, técnica de enfermagem, que também compõe a equipe de vacinação, e mãe solo de dois filhos, relatou as dificuldades enfrentadas para conciliar o trabalho e a educação das crianças. “Administrar o tempo entre um trabalho que exige muita atenção e responsabilidade e a atenção e educação dos filhos é um grande desafio. Porém esse desafio é muito bem desempenhado por mim e por muitas outras mulheres em várias profissões. Exercer tantas funções pode muitas vezes causar esgotamento emocional e físico. Por isso é importante ressaltar a necessidade de os homens serem pais ativos bem como maridos responsáveis nas tarefas de casa”, disse.

A enfermeira Valéria Pereira Vellozo, que está na há pouco mais de um ano no trabalho de vacinação, falou do orgulho em fazer parte desse momento. “Olhando todo o caminho percorrido, fico honrada por fazer parte desse momento. Valeu cada esforço, cada dia de trabalho. A vacina simbolizava a esperança, e trabalhar com a perspectiva da redução de morte nos motivava muito e esse resultado hoje é demonstrado na diminuição de mortes e casos graves da Covid-19”, afirmou. Valéria também fez um apelo para que todos que tenham a oportunidade se vacinem. “Vivenciei muitas histórias de pessoas que eram vacinadas e choravam por parentes e amigos que não tiveram a mesma oportunidade, por isso, hoje com o avanço da vacinação faço um apelo para aqueles que ainda não se vacinaram ou não vacinaram seus filhos, que se vacine, que não negue os benefícios da ciência para que cada dia que se passa possamos literalmente respirar mais aliviados”, pediu.

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