A região central da cidade vem experimentando uma espécie de “boom” de demolições que tem afetado de forma irreversível alguns imóveis com características históricas, processo que teve início em 2020 com a demolição de dois imóveis considerados icônicos; o antigo sobrado do Coronel Chico Vieira localizado na Praça Bernardino de Campos e o sobrado da família Fiordomo, na confluência das ruas Padre Ferraz, com Francisco de Paula Moreira Barbosa.
Mais recentemente, causou frisson a informação de que o tradicional Hotel Central, que funcionava desde 1920 na rua Orestes Pucci estava tendo o mesmo destino. As primeiras intervenções tiveram início no começo de julho e menos de 30 dias depois o prédio já estava no chão.
Também na região central, mais especificamente na esquina das ruas Comendador João Cintra com rua Prudente de Morais, nesta semana foi derrubado um imóvel que datava também do começo da segunda metade do século passado.
Em comum, o fato da grande maioria destes imóveis terem sido adquiridos para investimentos no setor comercial da cidade. O terreno do local onde existiu por décadas o sobrado do Coronel Francisco Vieira deverá dar lugar a uma filial da rede de lojas de brinquedos Do-Re-Mi. Na esquina da Francisco de Paula Moreira Barbosa, após dois anos do início da demolição, começa a ganhar forma o prédio que vai abrigar uma loja de material de construção, cuja matriz fica em Águas de Lindoia.
A TRIBUNA apurou que no terreno onde funcionou o Hotel Central dará lugar a um empreendimento comercial com uma “loja mãe” e outras salas comerciais como satélite.
PATRIMÔNIO
Em que pese o fato de que estes investimentos são muito bem vindos, ainda existem pessoas que se preocupam com o destino dos imóveis históricos, assunto que sempre foi tratado com muita parcimônia nos meios decisórios da cidade.
O empresário do setor de construção Civil Antônio Carlos Marcati, o Carlinhos, admite que o tema é espinhoso exatamente pelas ambiguidades que desperta. No seu entendimento, o maior entrave a uma discussão mais ampla sobre preservação do patrimônio histórico esbarra na ausência de iniciativas do poder público municipal no sentido de regulamentar o assunto. “Itapira não demonstra vocação para a defesa deste tipo de patrimônio”, comentou.
Carlinhos Marcati cita como exemplo o casarão da família Vieira, datado segundo ele de 1900, o qual, permaneceu um longo período fechado e nesse tempo todo não houve uma única movimentação para que fosse desapropriado pela prefeitura. Mencionou ainda o caso de um imóvel centenário nas imediações do Parque Juca Mulato, também muito antigo, e que cuja fachada está coberta por tapumes. Ele acredita que esse imóvel poderá terá o mesmo destino dos imóveis descritos nessa reportagem.
OPOSTO
O jornalista e músico Rodrigo Oliveira Pires de Souza, 39, vai na contramão da atual tendência de supressão dos imóveis antigos. Proprietário do Instituto de Música e Estúdio de Gravação Rodrigo de Souza e, ele acaba de se instalar no imóvel localizado na Praça Bernardino de Campos, datado de 1923.
O prédio pertence à família Mello Sartori, herdeiros do saudoso médico José Alberto de Mello Sartori, e nas negociações que se seguiram, uma das exigências dos proprietários, segundo Rodrigo, foi de que no trabalho de manutenção sejam levadas em conta a as características originais do prédio. “Assumimos esse compromisso, de voltar a dar vida para o local”, resume.
“Precisávamos de um espaço maior para as nossas acomodações. Acho que as negociações foram bem conduzidas para ambas as partes. Eu, particularmente, enxergo que para nossos frequentadores será uma atração à parte desfrutar da beleza e da história desse prédio”, completou.
Fotos: Paulo Bellini/Tribuna de Itapira
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