Esse tem sido um ano desafiador para o aposentado Arnaldo Franco, de 87 anos, principal referência do grupo Congada Mineira aqui na cidade. Além das atribuições domésticas que exerce diariamente, ele queima neurônios com o futuro do grupo folclórico criado pelo pai, o saudoso Joaquim Benedito Franco, há pelo menos 60 anos.

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Ele contabiliza cerca de 15 pessoas que ainda abraçam as cantorias e as batidas de instrumentos ligados ao ritmo e às indumentárias próprias da congada. A atração criada por Joaquim Benedito, mineiro de Savianópolis, já agrupou dezenas de pessoas.Com idade avançada, Arnaldo fica imaginando por quanto tempo o grupo ainda ficará preservado. O filho Carlos Sérgio, de 48 anos, embora faça parte daquelas pessoas que ainda mantém em pé a tradição, conforme relato do pai, não demonstrou até o presente momento inclinação para assumir a responsabilidade pela coordenação. “Eu tenho receio sim de que o grupo um dia acabe”, admitiu em conversa com O TRIBUNA em sua residência, na Vila Ilze.

O aposentado revela que ficou ainda mais preocupado durante a pandemia, quando a comitiva deixou de se apresentar, por exemplo, durante a festa de Maio, por dois anos consecutivos. “A Festa de São Benedito é nossa maior vitrine. Costuma injetar ânimo novo no grupo”, contextualizou. O retorno ao Largo de São Benedito ocorrido em maio desse ano foi para ele um divisor de águas, demonstrando que a tradição é mais forte do que as intempéries.

Dispersão

Além da questão folclórica, da tradição cultural, a congada representa para Arnaldo Franco um ponto de referência no tocante à presença da comunidade afrodescendente em Itapira, sempre muito forte. “Nossa comunidade parece que anda meio dispersa. Já teve uma presença de mais destaque”, observou. Essa ausência, segundo ele, ajuda a entender um pouco dos motivos pelos quais manifesta sua preocupação com a perda das referências que aprendeu a cultivar desde muito cedo, catalisadas pela Congada Mineira. Ao encerrar, o aposentado não tem dúvida em afirmar que mais do que uma manifestação cultural que resiste ao tempo, a congada criou raízes em Itapira e como tal, segundo ele, deve contar com a simpatia da sociedade em sua preservação, considerando o tradicional grupo que representa um patrimônio cultural de toda coletividade itapirense.

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