Itapira, que festeja neste 24 de outubro, 202 anos de fundação, pode ser considerada uma cidade bastante privilegiada no tocante à preservação da memória de suas famílias e personagens mais tradicionais. Conspira a favor uma tradição que vem de muito longe, desde primórdios da existência da cidade, quando a oralidade ainda era a principal forma de perpetuação dos fatos. Registros escritos viriam a substituir a tradição oral somente a partir da fundação do antigo JORNAL CIDADE DE ITAPIRA (1907).

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Nesse contexto, a cidade sempre projetou pessoas com esse tipo de vocação, de falar do passado, das famílias, dos personagens, imortalizados até hoje através da vocação manifestada por pessoas como o colunista e memorialista Arlindo Bellini,82, que há 33 anos deixa nas páginas do TRIBUNA DE ITAPIRA seus registros.

Prolífico, Bellini contabiliza centenas de páginas produzidas e não dá mostras de que vá arrefecer seu entusiasmo. Pessoa que adota a discrição como traço fundamental de sua personalidade, Arlindo Bellini não é dado a autoelogios, mas reconhece que a atividade que domina com maestria faz dele uma pessoa muito conhecida. “Itapira teve grandes memorialistas. Aprendi muito com diversos deles”, colocou.

 Ele cita alguns já falecidos como é o caso do saudoso João Torrecilas Filho, o “João do Norte” que escreveu para a Cidade de Itapira e também para a Folha de Itapira, onde assinava suas colunas com o pseudônimo de “João do Norte.

Bellini listou diversos nomes dos quais já foi contemporâneo e que cada um, ao seu modo, tinha um estilo próprio para relatar fatos passados da nossa cidade, como Plínio Magalhães da Cunha, Jácomo Mandato (ambos já falecidos) a escritora Lília Pereira da Silva, o advogado José Eduardo Rocha Pereira, o empresário Paulo Mitistainer e o jornalista Humberto Butti.

Esse último lançou recentemente seu segundo livro (Passagens e Personagens da Vida) que tem como pano de fundo uma coletânea de artigos que já publicou na imprensa local a respeito de fatos passados. Butti, de 65 anos, disse que se inspirou em cronistas aqui mesmo da cidade para criar seu próprio estilo em regatar os personagens do passado. Ele conta ter um acervo de cerca de 10 mil fotos, material que serve de consulta e às vezes de inspiração para realizar seu trabalho.

A professora Carmelita Cunha, filha do saudoso Plínio Magalhães da Cunha (falecido em julho de 2020) diz que o pai tinha o esmero em descrever fatos os quais presenciou , explorando também o recurso da oralidade, ao relatar, por exemplo, histórias que ouvia de seus pais.

Indagada se acredita que a tradição dos memorialistas possa resistir aos tempos modernos, ela diz que “ O memorialista será eterno. Em cada casa sempre há um”. Prossegue afirmando que “Memorialista sempre existirá e é deles que vem a verdadeira história contada por ter sido vivenciada e não pesquisada”, reforçou.

Diferenciação

A historiadora e professora de história, Helaine Cristina Marques de Oliveira, fez a pedido do TRIBUNA, a diferenciação que envolve as conceituações entre ser memorialista e ser historiador. Considera que os memorialistas têm sido fundamentais para relatos históricos desde tempos imemoriais, exercendo segundo ela, papel importante na tarefa de “coletar e preservar história oral, (aquela é que transmitida de geração para geração); narrativas que carregam uma interpretação pessoal e ideológica da sua localidade”.

Já o historiador, segundo ela, desempenha um outro papel. “O papel do historiador não é de narrar eventos, contar momentos, mas de levantar hipóteses, questionamentos diante dos desdobramentos de fatos históricos, proporcionando o debate. É buscar nas fontes históricas e no debate historiográfico análises, interpretações sobre as implicações proporcionadas pelo objeto (fato histórico). A análise é impessoal, porém ideológica a partir da corrente historiográfica. A contribuição do historiador é possibilitar visões do fato histórico e as consequências desse fato para o futuro da humanidade. O historiador não quer eternizar fatos históricos ele quer potencializar a criticidade da sociedade, diante da sua realidade confrontando e questionando os fatos históricos”, afirmou.

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