A ex-Secretária de Cultura do Município (2019-2020) e atual produtora executiva da Banda Lira Itapirense, Tamires Ponces, de 35 anos, fez ressurgir neste final de ano em grande estilo, a palhaça Picolina, personagem que encarna desde sempre.
Fez mais do que isso: através de seu incentivo, a colega Salua de Oliveira renasceu na pele da palhaça Trombetinha, durante a maratona em que se transformou neste final de ano a série de apresentações nas escolas infantis de e de ensino fundamental para marcar o final de ano do projeto Viva a Música Maestro Maurício Perina.
Ambas são supervisoras do referido projeto que ensina música nas escolas do município, Tamires dentro da área de expressão corporal e Salua em musicalização. Ao inserir a temática circense como tema universal dentro do esforço de realizar 39 apresentações, Tamires inevitavelmente recorreu a sua alter ego, Picolina, que dormitava dentro dela desde 2018, na última vez que tinha dado as caras em um projeto da própria Banda Lira, com a clientela da Associação Down de Itapira (ADI).
O JORNAL TRIBUNA DE ITAPIRA quis ouvir de Tamires como foi a gênese de seu personagem, a pretexto de não deixar passar batida a data do Dia Universal do Palhaço, festejada a cada dia 10 de dezembro. Todo o processo de gestação interior da personagem guarda relação direta com o encantamento que a menina Tamires nutria por humoristas da TV, principalmente Os Trapalhões. “Os Trapalhões eram palhaços”, acrescentou.
Além disso, os pais costumavam levá-la nos espetáculos circenses e nem é preciso dizer qual a atração que mais despertava encantamento nela. Com o passar dos anos, assim como por gravidade, foi se aproximando cada vez mais do mundo do circo e acabou integrando a trupe do Pirandello, um projeto desenvolvido pelo diretor e produtor teatral Valner Cintra (um dos fundadores do Talagadá) que dava destaque ao que Tamires chama de “palhaçaria”.
Esse primeiro contato, segundo a produtora, foi um caminho sem volta, reforçando em sua personalidade o gosto pela comédia. “Sempre gostei de atuar e de fazer as pessoas rirem. É algo forte dentro de mim”, declarou.
Batismo
Em 2011, Tamires teve oportunidade de participar de um projeto patrocinado pela Secretaria de Cultura do município, uma espécie de oficina voltada para ensinar as pessoas a atuarem como palhaço. Quem ministrava o curso era um palhaço argentino, chamado Abel Saaedreva. “Naquele momento eu vivenciei o ritual da descoberta do nariz do palhaço, com certeza o acessório mais potente desse universo”, recordou. Foi neste momento também que Tamires deu vida definitiva para Picolina. “O Abel nos dizia que um palhaço nasce de fato, quando um outro o batiza. E eu fui batizada por ele”, comemorou.
A partir daí Tamires deu um jeito de fazer com que aquilo que era hobby e encantamento pessoal se transformasse em atividade profissional. O processo de depuração e qualificação que exigiu dela muito esforço pessoal, foi recompensado com sua presença em eventos marcantes aqui mesmo na cidade, quando coordenou, por exemplo, um programa inovador na antiga Escola Interativa (o atual COC) que aliava arte e responsabilidade social, o Só Risos.
Mudança
O crescimento pessoal e profissional ganhou outra dimensão quando decidiu aceitar uma proposta para compor a equipe de docentes do ICA, uma ONG estabelecida na vizinha Mogi Mirim e que é referência nacional no acolhimento de crianças e adolescentes e também por sua cumplicidade com a proposta pedagógica inspirada no circo
Suas referências mudaram de patamar. Tamires passou a se relacionar com a nata acadêmica que tratava do circo como um fenômeno de transformação social. Um dos resultados deste aprofundamento foi filiar-se à Rede Circo do Mundo Brasil, organização que é referência em todo o Brasil na propagação de atividades educacionais e de inclusão social que tem o circo como inspiração.
Hoje em dia, Tamires admite que já não “incorpora” Picolina com a frequência que gostaria. “Agora somente em ocasiões especiais”, disse ela. Mas se orgulha em ter desbravado aqui na cidade um terreno que sempre foi muito associado ao universo masculino. “Nunca tive qualquer problema pelo fato de ser mulher, mas não tem como negar que esse território já foi mais delimitado entre os homens”, observou.
Ao finalizar, expôs sua opinião de que em Itapira existem pessoas vocacionadas para fazer o público rir sendo palhaços, citando os casos de Zuleica Silva, Alexandre Cezaretto e Juliana Avancini, pessoas as quais, segundo ela, já deram demonstração de possuir um talento nato. “São pessoas talentosíssimas”, elogiou.
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