Neste sábado, 11 de fevereiro, completam-se 135 anos do assassinato do delegado de polícia Joaquim Firmino, trucidado em sua residência por uma turba insuflada por proprietários de escravos insatisfeitos com um suposto descaso do delegado em capturar escravos fugitivos, apesar de ordens superiores recebidas neste sentido.
Na opinião insuspeita de muitos historiadores, entre eles o saudoso Jácomo Mandatto (in memorian) autor de um livro definitivo sobre o assunto (Joaquim Firmino, o Mártir da Abolição), o brutal assassinato do delegado deu um impulso derradeiro para que pouco tempo depois (em 13 de maio do mesmo ano) a princesa Isabel assinasse a Lei Áurea, que colocou ponto final na escravidão no Brasil.
Para os itapirenses o significado daquele que ficou nacionalmente conhecido como “O crime da Penha”, foi mais além. Dois anos depois, o município que se chamava Penha Rio do Peixe, trocou o nome para Itapira, uma manobra para tentar apagar da memória da cidade aquele crime hediondo.
Natural de Mogi Mirim, Joaquim Firmino foi designado para trabalhar na Penha Rio do Peixe e, setembro de 1885. Conforme destaca Jácomo Mandato em “Joaquim Firmino – Mártir da Abolição”, apesar dele próprio ter dois escravos sob sua tutela, Firmino não escondia sua simpatia pela causa abolicionista. Nos estertores da escravidão, crescia o total de casos de cativos que abandonavam suas propriedades, criando um problema sério para os latifundiários da época. Aqui em Itapira os proprietários de escravos, segundo a obra de Mandatto, pressionavam o delegado para que procedesse captura dos foragidos. Essa foi a causa de sua morte de forma brutal, atacado de madrugada em sua casa, localizada onde hoje é a rua Francisco Glicério, por uma pequena multidão constituída por mais de 100 algozes.
Homenagens
Fato é que decorrido tanto tempo depois, sua morte e principalmente sua motivação, acabou caindo numa espécie de ostracismo, aqui em Itapira e também em sua cidade natal (Mogi Mirim). A rigor, na vizinha cidade, ele tem somente uma rua designada com seu nome. Nem o local de seu sepultamento é de conhecimento público.
Aqui em Itapira, onde sua memória, por motivos óbvios, reflete de maneira mais intensa, além de uma rua com seu nome no jardim Soares, o ex-delegado dá nome à Delegacia de Polícia. O delegado Anderson Casimiro de Lima, que 135 anos depois tem a responsabilidade de ocupar o cargo de delegado titular da cidade, anunciou que ainda este ano, o prédio da delegacia terá uma inscrição com o nome de Joaquim Firmino em sua fachada. “Estamos trabalhando nisso”, revelou Lima.
A pedido da reportagem do JORNAL TRIBUNA DE ITAPIRA, o delegado atual fez algumas considerações a respeito dos eventos que culminaram com o brutal assassinato de Joaquim Firmino. “Trata-se de um herói na acepção máxima da palavra. Alguém que pagou com a própria vida na defesa de seus ideais, na defesa dos ideais do ser humano”, afirmou.
Ele disse ainda lamentar o fato de que eventos de grande importância histórica – categoria que coloca o assassinato de seu predecessor – acabem caindo no esquecimento. Neste sentido, afirmou que a iniciativa de revitalizar a fachada da delegacia de polícia local, e ornamentá-la com letreiros fazendo menção a seu patrono, tem essa preocupação em perpetuar o legado deixado pelo antigo delegado, o qual Jácomo Mandato imortalizou em sua obra como “Mártir da Abolição”.
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