Facilmente conseguimos observar nos dias de hoje o crescimento do individualismo e do consumo de situações fúteis pelas pessoas. As interações pessoais estão ficando de lado devido a idealização de um mundo artificial que está mundo longe de ser alcançado, tudo devido à valorização da estética, influência publicitária e cultura da imagem, onde o mais importante é parecer ser alguém de destaque do que ser de fato uma pessoa que tem uma atuação de valor. Situações lamentáveis, como os ataques nas escolas, acabam refletindo essa nova tendência da sociedade e, para entender um pouco mais sobre essa mudança de comportamento, o Tribuna de Itapira conversou com a psicóloga Tatiana Zago Adorno de Oliveira, que abordou o tema em relação aos adultos e crianças.
Tatiana explica que a internet, principalmente as redes sociais, são os grandes influenciadores na mudança de comportamento das pessoas, criando um distanciamento do contato interpessoal que podem afetar profundamente as relações afetivas, que são de grande importância para o desenvolvimento do indivíduo.
“Hoje as pessoas são consumidas e afetadas pela internet, pelo que ela impõe, o que julga, o que quer. As consequências mais visíveis é o perfeccionismo, o ser perfeito. Tudo se compartilha e é colocado como “objetivo” ter uma vida perfeita, família perfeita, amigos e vida pessoal perfeita, quando na verdade sabemos que é aí que a humanidade está sendo consumida por esse inalcançável mundo. Principalmente quando se tenta buscar esse perfeccionismo a todo momento e a todo custo, deixando de buscar o contato pessoal e físico, a valorização de uma boa troca de conversa, experiências e vivenciar momentos que sejam fora da rede social. Cada vez mais que ficamos individualizados, temos menos conexões, menos relações e menos autoconhecimento das nossas emoções, consequentemente, acabamos ficando distante de toda responsabilidade afetiva que possa existir em relações”.
Toda essa nova forma de encarar uma suposta realidade acaba tendo, segundo a psicóloga, reflexos que podem ser expressados com atos de violência, tudo muito relacionado ao fato de as pessoas estarem perdendo a condição de lidar com emoções do dia a dia.
“Acredito sim que essa mudança de comportamento possa intervir nos casos de violência pelo fato de que não se sabe mais expressar o que se sente. Estamos vivendo tempos de que não se sabe lidar com frustração e nem com as emoções, com uma escuta ativa. Seja por medo, por falta de pessoas de confiança, pela falta de tempo do outro em ouvir e até vergonha de se mostrar vulnerável. Quaisquer que sejam os motivos, aquele indivíduo que cometeu um ato de violência está querendo ser ouvido, podemos considerar um tipo de pedido de “socorro”, de um jeito que infelizmente não gostaríamos de ver”.
PANDEMIA
No primeiro ano da pandemia de covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou cerca 25%, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde. Em 2020, a entidade já alertava para a necessidade de manutenção dos serviços de assistência à Saúde Mental e ampliação dos atendimentos. Nos dias de hoje, os problemas relacionados a saúde mental estão sendo encarados como uma segunda pandemia. As questões do isolamento, do medo e da tristeza da perda que a sociedade viveu durante o período corroboraram para essa mudança de comportamento das pessoas, mantendo elas cada vez mais distantes e suscetíveis a ideias de um mundo artificial ideal.
“A pandemia foi um acontecimento que atrapalhou muito as relações e a forma como elas acontecem. Hoje se vê uma valorização na rede social que ganhou força após a pandemia. Com uma rede social você encontra a privação do mundo externo para viver o mundo interno daquela forma de se comunicar, e volto a mencionar, o mundo interno do perfeccionismo, onde não tem chance para errar ou não ser aceito, ali tudo vale, ali todo mundo faz o que for necessário para ser comparado com os que almejam”.
Esse distanciamento não afeta apenas os adultos. As crianças vem sendo consumidas por essa falta de presença física e interações, algo que irá afeta-las profundamente na fase adulta de suas vidas. “As crianças precisam de contato, de relacionamentos, de presença física. Elas aprendem imitando, aprendem com a interação e tendo espelhos. Se perderem esse contato social, com certeza levará ao prejuízo de não saber lidar com suas emoções lá na frente (não muito longe) e isso, vem à tona em diversos tipos de frustrações por não saber o que e como sentir, o que e como falar, o que e como se relacionar de fato”.
“Os acontecimentos que estamos vivenciando há um tempo, faz com que as pessoas acreditem que para serem ouvidas, precisam mover esse tipo de agito e de situação, algo que só possa acontecer se criarem esse alarme raivoso de expressão por não conseguir algo. A verdade é que precisamos criar nossas crianças e adolescentes reforçando aos adultos que é necessário escutar e dar atenção, pois são muitos vulneráveis”. Tatiana reforça que é necessário ter uma ajuda profissional para saber lidar com dor, frustração ou um assunto mal resolvido. Às vezes, uma conversa simples com orientação já permite uma abertura para resolução do problema. “Compartilhe o que sente, o que pensa, o que te deixa feliz e o que te deixa triste. Se expresse e não sinta vergonha. A forma mais gentil de você lidar com suas emoções, é você querer compreendê-las”, concluiu. Tatiana realiza atendimentos em seu consultório localizado na Rua Padre Ferraz, 680. O telefone de contato é o (19) 99912-7081.
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