A face mais perversa do desemprego que afeta mais de 10% da população brasileira talvez esteja nos números que indicam que os mais jovens são os mais afetados. No ano passado, o ano terminou com uma estimativa de que o índice de jovens na faixa etária de 18 a 24 anos sem ocupação formal era em torno de 22%.
Até pouco mais um ano atrás o itapirense João Gabriel Bueno da Silva, de 18 anos, era um deles. Não passou no período de testes da tentativa do primeiro emprego em uma empresa do setor de material reciclável aqui da cidade. A urgência em ajudar nas despesas de casa, onde mora com a mãe Rosemary Manoel (na Vila Ilze) fez com que saísse nas ruas para vender paçoquinha.
De imediato, notou que precisava aumentar o sortimento dos produtos que vendia, focalizando os cruzamentos na região central de maior movimento. Foi aí que teve a ideia de recorrer a um personagem – do qual é fã – para aumentar suas vendas: o Homem Aranha. Gabriel recorreu a um dos mais populares super-heróis da empresa Marvel para criar o personagem “Miranha”, corruptela de Homem Aranha que já se tornou famosa em certos redutos aqui da cidade. “Procurei fantasia pela Internet e adquiri uma. No início pareceu algo meio estranho, mas logo me acostumei”, disse para O TRIBUNA DE ITAPIRA, no decorrer desta semana.
A estratégia, segundo ele, acabou dando certo. Contou que teve um salto na venda não só de paçoquinhas, mas de balas, gomas de mascar e outras miudezas. A rotina, segundo o “Miranha”, é puxada. Chega aos arredores da Praça Bernardino de Campos sempre por volta das 9h00 da manhã e só vai dar um tempo ali pelas 15h00, quando se dá ao luxo de uma hora de descanso. A partir das 16h00 retoma a atividade e vai até às 18h00.
João Gabriel, ou melhor, Miranha, conta que a reação da maioria das pessoas é de simpatia quando se apresenta. Mas, conforme segredou, existem aquelas pessoas que não gostam do assédio. “Cada um tem seu jeito, paciência”, releva. No período em que a reportagem o abordou, havia outras pessoas que também vendiam balas e doces no local e elogiaram a iniciativa de João Gabriel. “Não tem essa de concorrência, o sol nasceu para todo mundo”, disse uma senhora que preferiu não dizer o nome.
INTERNET
Após construir sua rotina e ficar mais conhecido, Miranha passou a explorar nas redes sociais a fama repentina. Ele percebeu que muitas pessoas passaram a gravar imagens dele enquanto oferecia seus produtos. “Solicitei para que essas pessoas me enviassem o conteúdo e passei a arquivar e trabalhar essas imagens, para colocar nas minhas redes sociais” contou. Foi dessa forma que João Gabriel passou a construir a imagem do seu personagem.
Miranha disse que desde que passou a mostrar seu dia a dia nas redes sociais, já atingiu cerca de 120 mil seguidores em sua conta no Instagram. Nada mal para quem começou com apenas 33 deles. “Eu invisto em vídeos de curta duração, que são os que mais dão audiência”, ensina.
Ele conta ainda que esse tipo de divulgação tem um aspecto social, na medida em que mostra para jovens como ele, que existem outras formas de enfrentar as dificuldades da vida. “Empreender é uma forma de não cair na tentação de fazer coisas erradas. Acho importante mostrar isso para as pessoas”, conjecturou.
SONHO
O TRIBUNA quis saber dele se imagina que poderá monetizar suas aparições nas redes sociais e desta forma obter uma renda extra, como tem sido comum nos dias de hoje com a febre das redes sociais, onde pessoas alcançam projeção nacional a partir muitas vezes de registros insólitos publicados na rede. “Estou trabalhando para isso”, segredou. Ao finalizar, disse que alimenta sonhos elevados, como por exemplo, ter um carrão. “Já que é para sonhar, precisamos sonhar alto. Ainda quero dar uma volta na praça montado em um Audi A3”, encerrou.
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