Não é segredo que o itapirense de uma forma geral é amarrado em uma boa feijoada. Essa relação, como é natural ocorrer, ganha consistência na medida em que a estação mais fria do ano chega. Não por acaso, os supermercados da cidade capricham na formação de “ilhas” dentro de seus estabelecimentos, promovendo produtos utilizados. O consumo é superlativo.

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O fenômeno se intensifica por conta dos encontros programados nas centenas de chácaras de veraneio existentes na cidade. “Tudo começou no rancho de pescaria”, revela o aposentado João Carlos Chagas, de 72 anos, listado entre os grandes especialistas da iguaria aqui na cidade, ao descrever para o TRIBUNA como se apaixonou pelo assunto.

Chaguinha, como é popularmente conhecido, conta que tem no DNA o dom da culinária, algo que segundo ele “vem de família”. Ele comanda ao lado da esposa Marinês e do filho Leandro um dos mais tradicionais serviços de fornecimento de marmitex de Itapira, o Especialidade. A respeito das feijoadas, disse que é muito solicitado até por amigos para dar uma força na elaboração, mas que por conta da semana pesada de serviço, acaba declinando. “Fim de semana, tenho que descansar”, pondera.

O mestre cuca conta que em mais de 40 anos fazendo feijoada, desenvolveu sua própria receita. “Cada um tem seu jeito de fazer. Eu dou muita importância à ferventação dos ingredientes, além do tempero que usa alho, sal, pimenta e folhas de loro”, segredou. Chaguinha informa ainda que já perdeu as contas de quantas vezes ajudou entidades assistenciais na feitura a feijoada.

Fala com orgulho que tem sido, ao lado do aposentado Mário Bazani, protagonista da feijoada da Banda Lira, preparada para atender cerca de 400 pessoas e que rivaliza com a aquela realizada pela APAE como a “maior” da cidade, cuja realização ocorreu no domingo passado, dia 02. “Uma feijoada com essa pegada a gente tem que acertar a mão”, registrou.

Chaguinha (esquerda) pilotando fogão de seu empreendimento junto com a família: listado entre os maiores “feijoadeiros” de Itapira

Amigos

A feijoada da APAE, evento inserido a partir de 2019 no contexto organizacional da entidade, nasceu do conhecimento acumulado por um grupo de amigos que também se reunia em um “rancho” para experiências gastronômicas, reunindo pessoas bastante conhecidas do convívio social dos itapirenses, como André Antonelli, Leonardo Marangão, e Thomaz Antônio Moraes.

Segundo Moraes, dado o refinamento que atingiram cozinhando a feijoada, intuíram fazer da expertise adquirida uma boa ação. “Decidimos que dali em diante faríamos uma feijoada beneficente. Foi desta forma que chegamos na direção da APAE e fizemos a proposta, prontamente aceita”, recordou. O evento ganhou até nome, “José Roberto Prado”, em homenagem ao saudoso e inesquecível benemérito, falecido há quatro anos.

Neste ano, os preparativos começaram, segundo André Antonelli, seis dias antes de ser servida a feijoada. A empreitada contou também com a participação de Carlos Abreu e Alexandre Costa Lima. Antonelli enfatizou as dificuldades de realizar um evento gastronômico desta magnitude, a começar pelo volume de ingredientes necessários.

Foram empregados, segundo ele, foram quase 300 kg de carne e embutidos (linguiça calabresa, paio, bacon, carne seca, pernil, costelinha, pele, pé, joelho); 60 kg de feijão preto, 50 kg de arroz, 40 kg de tempero e 20 kg de couve. André Antonelli disse que todo esse esforço foi plenamente compensado, pelo prazer de elaborar um prato saboroso e, principalmente, em ajudar a quem precisa.

“Sempre fomos apaixonados pela boa culinária.  Aprendemos a cozinhar com nossos familiares. Aí no caso da feijoada da APAE, o desafio maior foi realizar a primeira, pois nunca tínhamos cozinhado um volume de ingrediente desse porte, projetado para atender tanta gente. Pegamos o jeito, mas não tem como negar que é algo desafiador, bastante trabalhoso e recompensador”, concluiu.

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