No exato momento em que o Brasil todo se comove com o caso do apresentador de televisão Fausto Silva, o qual, com um grave quadro de insuficiência cardíaca, realizou um transplante de coração no domingo, dia 27, autoridades de saúde do município cuidam de intensificar os procedimentos necessários para que o Hospital Municipal continue sendo referência em todo Estado de São Paulo para a captação de órgãos de pacientes que tenham ido a óbito e que preencham o rigoroso protocolo que regulamenta este tipo de atendimento.

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“Pouquíssimos hospitais possuem esse nível de capacitação”, endossa a médica dermatologista Dra. Maria Sueli Rocha Longhi, atual diretora administrativa do Hospital Municipal. Dra. Sueli apresentou no transcurso desta semana a maior parte da equipe diretamente envolvida neste processo de preparar pacientes que vão a óbito e que preenchem os requisitos para doar órgãos.

Receberam a reportagem do TRIBUNA DE ITAPIRA Mônica Eliane Cobra (coordenadora da área de enfermagem); Mariane Tofanello Lima Sieve (enfermeira de ambiente de UTI), o médico anestesista Danilo Antônio Manha e a maior parte da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, formada pelo médico Carlos Eduardo Biscaro, Zilda de Fátima Sabadini, Andressa Corazza, além da própria enfermeira Mariane.

Força Tarefa

Apesar destes profissionais estarem preparados a partir do momento em que se vislumbra um quadro de retirada de órgãos, Mônica explica que todo o processo movimenta uma número ainda maior de pessoas, “face à complexidade dos procedimentos que devem ser obedecidos durante os preparativos”, uma verdadeira “força tarefa” segundo ela.

Muito além da técnica, destreza, capacitação e uma elevada dose de intuição, os profissionais encarregados dos procedimentos de retirada de órgãos destacam a celeridade com que tudo deve ser feito, o que exige, segundo Mariane, “uma coordenação perfeita, onde nada pode dar errado”.

O “start”, como os profissionais definem o momento inicial de um procedimento, é a comunicação feita a um órgão de referência que faz a regulação das diversas etapas necessárias para que o processo seja bem sucedido, aí no caso, a Organização de Procura de Órgãos (OPO). A partir das primeiras informações colhidas junto ao local que forneceu o aviso, terá prosseguimento uma delicada operação que irá resultar no envio, primeiramente, de uma equipe precursora que se desloca até o local para se certificar que o paciente teve morte encefálica (mais conhecida como ‘morte cerebral’). Constada a veracidade da informação, outras equipes serão acionadas, diretamente relacionadas aos órgãos que serão recolhidos.

Requisitos

Até que essa intercorrência esteja sendo realizada (a retirada e remoção dos órgãos) uma série de procedimentos já foram executados. É aí que entra a atuação da equipe multidisciplinar do HM. A primeira ação concreta é atestar a morte cerebral, procedimento que normalmente é registrado na UTI. Mariane explica que após a primeira constatação, dois outros exames serão realizados, o último deles por um médico neurologista.

Constatado o óbito, vem a fase seguinte, não por acaso, considerada por muitos destes profissionais como aquela mais espinhosa, que é conversar com os familiares, comunicar o falecimento e em ato contínuo convencê-los a fazer a doação dos órgãos. “É um processo delicado, onde procuramos consolar a pessoa por aquela perda irreparável e ao mesmo tempo, convencê-la de que seria um gesto extremamente nobre contribuir para uma melhor qualidade de vida de dezenas de milhares de pessoas que estão na lista de espera por um transplante”, comentou a enfermeira Zilda.

O anestesista Dr. Danilo, pontua que dado o sinal verde dos familiares e acionado o “start” do órgão regulador, toda uma série de protocolos são acionados para que a operação seja bem sucedida. Em meio a uma bateria de exames – cujos resultados são enviados a outras equipes de forma instantânea, com uso até mesmo do Whats App – e preparativos para que o doador reúna condições essenciais para a retirada dos órgãos, tudo é feito de forma concatenada para que os profissionais que vierem a Itapira possam fazer a retirada, operação que muitas vezes envolve diferentes equipes dada a necessidade de especialização em tipos de órgãos diferentes.

Importância

Danilo destaca a importância do serviço bem realizado pelo Hospital onde o paciente foi a óbito. “Imagine só, se as equipes médicas de alta especialização chegam aqui e por causa de falhas no processo de preparação do doador os órgãos estão comprometidos. Seria desastroso”, classificou.

Para que tudo saia corretamente conforme os protocolos existentes, toda equipe passa por períodos de treinamento, como ocorrido em julho em Mogi Guaçu, que levou até a Santa Casa da vizinha cidade a maior parte dos integrantes da Comissão Hospitalar local. Sem esta expertise, seria inimaginável que Itapira fosse responsável ainda este ano por dois procedimentos de retirada de órgãos, um ocorrido em Março, envolvendo um jovem de 17 anos que morreu de acidente de moto e em julho, outro caso, de uma pessoa do sexo masculino de 31 anos, cujos familiares são de Mogi Mirim. Ambas as ações resultaram na retirada de diversos órgãos – operação muito bem sucedida que valeu ao Hospital Municipal agradecimentos e reconhecimento textual da prestigiosa Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) pela colaboração oferecida.

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