No vácuo dos festejos dos 150 anos de imigração da colônia italiana para o Brasil, iniciados na última semana, o TRIBUNA DE ITAPIRA conversou com o cantor Tony Angeli, o maior representante da música romântica italiana em todo o Brasil, país onde chegou no distante ano de 1966, atraído pelas oportunidades oferecidas pela Jovem Guarda – movimento musical que abalou o país nos anos 1960.

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O artista recebeu a reportagem em sua residência, na tarde da última quarta-feira. Falou de sua gratidão aos brasileiros, da carreira, do futuro e é claro, de Itapira, cidade onde se fixou há 22 anos a partir do momento em que engatou um romance com a empresária Mirtes Bianchesi, sua esposa.

Quando perguntado se já tinha parado para refletir a respeito desta ligação fraterna que une brasileiros e italianos, Tony Angeli disse que se sente emocionado ao poder interpretar o momento histórico que uniu as duas nacionalidades. “Eu me coloco no lugar daqueles pioneiros, que deixaram tudo para trás, e cruzaram o oceano Atlântico, na esperança de uma vida melhor”, refletiu.

Demonstrando amplo conhecimento histórico, o cantor contextualizou o movimento imigratório de seus conterrâneos, falando das dificuldades que o país de origem enfrentava, os graves problemas sociais e econômicos a serem resolvidos por uma nação recentemente unificada às duras penas.

“Além de todos os problemas econômicos, a Itália do final do século XIX se caracterizava por ser um país muito populoso. A necessidade de mão de obra que os brasileiros possuíam, sobretudo para a lida com plantações de café, encontravam na situação da Itália um casamento perfeito”, disse. “Os italianos, em sua maioria, eram trabalhadores qualificados. Sabiam lidar com a terra. Essa vocação agrária é algo inerente à população italiana. Desse encontro de necessidades ocorreu o processo migratório, não sem muita persistência, resiliência e toda sorte de dificuldades dos italianos, muitos dos quais acabaram se transferindo para a região sul do país, alterando substancialmente o modo de vida de diversas comunidades, com forte influência até os dias de hoje”, ensinou.

Uruguai

Ao relatar seu próprio processo de imigração a partir da região do Vêneto (na cidade de Rossano) conta que parte da família havia emigrado para o Uruguai no início dos anos 1950 e que em 1957 – quando ainda era conhecido por seu nome civil, Cezare Fincatti –  seus pais decidiram empreender a mesma viagem. “Foram 14 dias para chegarmos ao Uruguai”, recordou.

Tony exalta o fato de ter se tornado ao longo de tantos anos espécie de interlocutor privilegiado entre os dois países que ama de paixão, a Itália e o Brasil. “Só tenho a agradecer e me dedicar ao máximo para que esta relação seja sempre cada vez mais intensa”, afirmou.

Quando fala da carreira musical, o artista exibe um brilho nos olhos. Disse que apesar da idade avançada, está em plena forma pessoal e artística e que se sente cada vez mais motivado. Revelou que a pandemia fez com que colocasse o pé no freio, mas que aos poucos vai retomando a rotina de shows, apresentações e as aparições na televisão. Recentemente, participou como jurado no Programa do Ratinho, segunda maior audiência da TV brasileira. “Os convites para shows continuam chegando num ritmo desejável.  Eu vivo disso. Amo apaixonadamente aquilo que faço”, pontuou.

Falou ainda, é claro, de sua relação com Itapira. Apesar de ser uma pessoa bastante discreta no dia a dia, Tony conta que está perfeitamente integrado à rotina da cidade que escolheu para viver, onde é tratado com uma reverência muito especial, especialmente pelos fãs. “Aqui cheguei, adorei e aqui fiquei”, exaltou.

Ao final da conversa, segredou que antes de se fixar em Itapira, já tinha feito apresentações aqui, na primeira metade dos anos 1970. Ao forçar a memória, disse lembrar-se que o convite partiu da organização de uma espécie de Feira Empresarial. “Jamais me passaria pela cabeça, que um dia estaria eu aqui, vivendo uma etapa tão rica da minha vida”, completou.

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