Itapira chegou a 5.881 casos de dengue confirmados neste ano. Na última semana, de acordo com dados da Saúde, foram registrados mais 655 casos, sendo todos autóctones (contaminação dentro do município). Três óbitos estão em investigação e 14 pessoas estão internadas.
Não bastasse ser a pior epidemia de dengue da história de Itapira (até então o ano de 2015 era o recordista com 4.494 confirmações), o município tem mais de duas vezes casos positivos do que as três maiores cidades vizinhas – Mogi Guaçu, Mogi Mirim e Amparo, somadas.
O Tribuna de Itapira entrou em contato com a Secretaria de Saúde dos três municípios e apurou os dados atualizados da dengue até esta semana. Mogi Guaçu soma um total de 1.012 casos positivos, Mogi Mirim tem 1.095 e Amparo até o momento está com 522 confirmações. Somando as confirmações das três cidades se chega a um total de 2.629 casos. Sendo assim, Itapira possui 2,2 vezes mais casos que as referidas cidades somadas.
Fato que cabe ser destacado é a diferença de população nessa situação. Enquanto que Mogi Guaçu, Mogi Mirim e Amparo somam uma população de 314.228 habitantes (de acordo com o Censo de 2022), Itapira está com seus 72.022 moradores – mais de quatro vezes menos.
Levando em conta a população de Itapira e o total de casos confirmados no município, mais de 8% dos itapirenses já se contaminaram com a dengue neste ano. A porcentagem de contaminação das outras cidade do comparativo também são bem menores do que Itapira: Mogi Guaçu – 0,66% da população contaminada (153.661 habitantes); Mogi Mirim – 1,18% da população contaminada (92.559 habitantes); Amparo – 0,77% da população contaminada (68.008 habitantes).
Especialista aponta atraso no combate ao mosquito
Nesse contexto de uma grave epidemia de dengue que se instaurou em Itapira, o Tribuna conversou com o Engenheiro Agrônomo, Belarmino Peres Júnior, que salientou um certo atraso no combate ao mosquito em Itapira.
Peres disse que “não se pode brincar com a procriação de insetos” e que o combate do mosquito deve ser feito “durante todo o ano”. De acordo com os dados exemplificados, o engenheiro destacou que uma fêmea, após cerca de uma semana de vida, já pode ser fecundada e que, durante o período de 30 dias, pode chegar o botar até mil ovos. “Se a fêmea já estiver contaminada, todos os ovos também estarão com o vírus. A multiplicação é exponencial”.
De acordo com Peres, o grande problema é o mosquito e ele deve ser combatido dentro de seu habitat, que é o ambiente urbano, porém, as ações deveriam ter começado muito antes. “A cidade é o melhor local para a fêmea encontrar água parada para depositar seus ovos. O controle e a limpeza deve ser feito sempre. Eu não observei preocupações e atuações entre setembro e outubro do ano passado com a dengue, um momento em que antecedeu o período das chuvas”.
Esse tipo de atraso em ações mais efetivas acabou gerando uma situação de necessidade de combate ao mosquito adulto que, segundo o profissional, é muito mais difícil. “Não fez antes uma ação mais agressiva, não controlou os focos de procriação, agora tem que combater o mosquito adulto que é muito mais difícil. Mesmo passando o inseticida, este tem efeito por algumas horas e depois acaba. Ficamos na mão de autoridades que estavam sem um plano de ação prévio”.
A reportagem questionou Peres sobre o período de seca e frio que está por vir, se este seria um momento em que os casos iriam regredir. O engenheiro foi direto ao responder que essa situação não irá parar e não terá controle. “Sem a chuva não temos a eclosão dos ovos, mas isso não significa que a situação será controlada. As infecções irão retornar pois os ovos podem durar até um ano esperando água para eclodirem. Então com o novo período chuvoso os mosquitos estarão de volta. A limpeza é fundamental e ela deve ser feita de forma constante”.
Peres também chamou a atenção da população com relação a essa grande diferença de casos de Itapira para as cidades vizinhas. “Teoricamente, a população das outras cidades está com o costume de maiores práticas de limpeza. Se todos colaborarem, é possível realizar um grande controle do mosquito”.
Questionado sobre a situação crítica da coleta de lixo que Itapira enfrentou entre o final de fevereiro até o início de abril, Peres frisou que a situação contribuiu para a proliferação do mosquito, já que a limpeza é o primeiro passo para o combate e a situação do acumulo de lixo nas ruas ocorreu em época de chuvas.
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