Durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso, em 1999, com a política de que todo remédio teria de chegar aonde o povo está, foi implantado um novo modelo de fornecimento de medicamentos a fim de garantir acesso a tratamentos para doenças prevalentes de uma forma mais ampla e sustentável no país.
Após a aprovação de uma lei, os chamados “genéricos” foram criados com a proposta de manter a eficácia e a segurança dos produtos originais de marca, mas custando muito menos para o paciente e o sistema.
A lei que deu origem à política de medicamentos genéricos no Brasil completa 25 anos. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), hoje eles representam cerca de 40% dos remédios comercializados no país. Atualmente, o Brasil conta com mais de quatro mil medicamentos genéricos registrados, que tratam desde problemas mais simples até doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Ao todo, 88 empresas fabricam genéricos no país, movimentando uma economia bilionária.
Custos
O maior impacto na implementação desses medicamentos, um dos principais fatores de permitir acesso mais democrático aos medicamentos, foi a queda de custo. No mercado de medicamentos para tratamentos de doenças crônicas, os genéricos se estabeleceram como líderes na preferência dos consumidores brasileiros.
Segundo Ronaldo Rodrigo Carmona, profissional atuante há 39 anos no ramo farmacêutico e proprietário da R e R Pharma, uma das situações que poucos observam é a grande concorrência no mercado que os genéricos criaram, fazendo com que os preços dos medicamentos caiam com a disputa dos laboratórios.
“Um medicamento de referência, quando cai a sua patente, algo que acontece após vinte anos que a sua fórmula é lançada, já pose ser produzido na versão genérica. Então, os laboratórios passam a produzir e comercializar os medicamentos, criando uma certa guerra de preço entre as marcas e forçando aquele de referência a também reduzir o preço devido à forte concorrência”, disse Ronaldo.
Medicamentos Genéricos possuem a mesma composição química, concentração, forma farmacêutica, eficácia, segurança e qualidade do medicamento de referência. No entanto, são produzidos por diferentes fabricantes e são vendidos sob o nome do princípio ativo (substância química) que compõe o medicamento.
“Tem pacientes que só compram do genérico, outros que preferem a marca de referência por se sentirem mais confiantes. Existem também médicos que não gostam e não receitam os genéricos. A grande maioria dos consumidores aceitam e fazem bom uso do genérico pelo seu bom preço”, completou Ronaldo.
Qualidade
Para serem aprovados, os genéricos obedecem a rigorosos padrões de controle de qualidade. Por lei, só podem chegar ao consumidor depois de passar por testes de biodisponibilidade, que indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem a partir de sua curva de concentração/tempo na circulação sistêmica, e bioequivalência, que consiste na demonstração de equivalência farmacêutica entre produtos apresentados sob a mesma forma farmacêutica contendo idêntica composição qualitativa e quantitativa de princípios ativos.
O Tribuna questionou Ronaldo de como eram antes dos genéricos surgirem no Brasil. Ele destacou a presença dos chamados “similares”, produtos que cumpriam o papel de serem mais baratos, porém, sem um controle e garantia de qualidade.
“Antigamente existiam os chamados similares, os quais quase nenhum tinham o teste de bioequivalência, ou seja, eles eram vendidos como sendo a mesma formula, mas não tinham uma fiscalização para garantir que era feito da mesma maneira e que proporcionariam o mesmo resultado. A partir do genérico, além de ficarem mais baratos, assim como os similares, os remédios ficaram mais garantidos. Os similares ainda existe, mas pela lei, devem ter o teste de bioequivalência, um outro ponto positivo”.
Futuro
O Brasil consolidou um sistema de produção e distribuição de genéricos com a participação dos setores público e privado e se prepara para outro movimento, a expansão dos biossimilares, medicamentos obtidos de células vivas que, inspirados nas versões biológicas originais, poderão aumentar a oferta de tratamentos contra o câncer e doenças reumáticas, por exemplo. O desafio, daqui para frente, é desenvolver métodos menos burocráticos para agilizar a integração dos medicamentos biossimilares, que já têm espaço na medicina por demonstrarem eficácia. Diferentemente de um genérico, obtido sinteticamente, biossimilares emulam os originais biológicos, oriundos de culturas de células em laboratório. São exemplos a insulina e os anticorpos monoclonais.
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