A Semana de Arte Moderna, um dos principais acontecimentos culturais do século passado no Brasil, completou 100 anos. O evento aconteceu na capital paulista entre 13 e 17 de fevereiro em 1.922. Encabeçada por diversos artistas, teve participação importante de um ‘quase’ itapirense, o escritor e poeta Menotti Del Picchia, que passou sua infância no município redigindo aqui uma de suas principais obras, Juca Mulato.

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Um século depois os desdobramentos desse marco cultural ainda reverberam em todo país, inclusive, em Itapira. Marcado pela intenção de mudar, modernizar, dar mais acesso à cultura, levar a arte para fora da academia e principalmente dando mais brasilidade às manifestações, a Semana foi um verdadeiro marco à cultura brasileira.

Para o atual Secretário de Cultura e Turismo da cidade, Cesar Lupinacci, o legado desse evento é exatamente a possibilidade de outros atores culturais se apropriarem das ideias ali disseminadas. “A grande importância da Arte Moderna para Itapira é, além de seu movimento como um todo, a presença de Menotti em nosso município, trazendo diretamente muitos materiais e ideias inovadoras da época. Deixa também uma “Casa” com muitos acervos para o município, bem como para todo o país, com pesquisas de materiais riquíssimos”, disse.

Ele fez referência à Casa Menotti Del Picchia, localizada no parque Juca Mulato, atualmente sendo reestruturada. Ano passado ela passou por reforma interna encabeçada pelo Sami (Sociedade dos Amigos do Museu de Itapira) que obteve uma verba do Proac (Programa de Ação Cultural de São Paulo) no valor de R$ 100 mil. Segundo o diretor de Cultura de Itapira, Ezequiel Barel, o espaço, atualmente fechado será reaberto. “A gente readequou a expografia. A ideia é modernizar ainda mais o espaço. Vamos abrir a Casa em breve”, afirmou.  

O Produtor Cultural Ricardo Pecego, traçou um paralelo da Semana de Arte Moderna em três personagens da cultura local: Henrique Felipe da Costa, o Henricão, que tinha 14 anos na época; Orlando Silva de Oliveira Costa, ou o Maestro Cipó, que nasceu em novembro de 1922; e o jornalista e historiador, Jácomo Mandato que tinha 11 anos.   

“Esses três personagens representam uma diversidade de coisas importantes que a semana tanto defendia, como a arte abrasileirada, a arte e como empreendedorismo próprio, como linguagem nova. Henricão, se envolvendo com o samba, enfrentou uma série de desafios por ser um cantor e ator negro dentro de uma grande metrópole. Isso mostra que tinha arraigado dentro de si muitos dos pontos que a Semana despertou. O maestro Cipó foi muito importante para o Brasil. Ele aproveitou a obra de Heitor Villa Lobos e de outros elementos para fazer parte da sua arte e linguagem. E temos um personagem que muito contribuiu com Itapira que é Jácomo Mandato. As questões nacionalista e patriótica que a semana de 22 trouxe pôde ser vista sem dúvida em Jácomo, que foi um itapirense patriota, que mapeou e desvendou os costumes e origens de Itapira”, analisou Pecego, que também já ocupou o cargo de Secretário Municipal de Cultura.  

A Produtora Cultura da banda Lira Itapirense, Tamiris Ponces, que também já esteve à frente da pasta em Itapira analisou que a Semana teve sua importância na cultura nacional, porém, em Itapira, outros expoentes acabaram surgindo também deixando o seu legado.

“A cultura é muito forte e está no DNA de Itapira. A Semana de Arte moderna deveria ser mais rememorada e lembrada em nossa cidade, mas não foi algo que fez parte das últimas gerações. Deveria ter sido mais disseminada. Assim, temos outros artistas, além de Menotti, que também deixaram o seu legado para a cidade resultando em projetos como a Banda Lira, a Congada, temos Paulino Santiago, um Toy Fonseca, entre tantos outros”, analisou. 

HISTÓRIA

A Semana de Arte Moderna aconteceu entre os dias 13 e 17 de fevereiro, no Theatro Municipal de São Paulo, e foi financiada pela oligarquia paulista. Cada dia da semana trabalhou um aspecto cultural: pintura, escultura, poesia, literatura e música. Participaram do evento nomes consagrados do modernismo brasileiro, como: Mário de Andrade; Oswald de Andrade; Víctor Brecheret; Plínio Salgado; Anita Malfatti; Guilherme de Almeida; Sérgio Milliet; Heitor Villa-Lobos; Tácito de Almeida; Di Cavalcanti; Agenor Fernandes Barbosa; entre outros.

Del Picchia exerceu diversas atividade ao longo de sua vida, como jornalista, advogado, político e ocupou diversos cargos públicos. Foi deputado estadual constituinte e deputado federal por São Paulo. Na Semana de Arte Moderna, foi um dos principais articuladores, ativistas e colaboradores. Ele abriu a segunda noite com uma conferência em que era negada a filiação do grupo modernista ao futurismo de Marinetti, mas defendia a integração da poesia com os tempos modernos, a liberdade de criação e, ao mesmo tempo a criação de uma arte genuinamente brasileira.

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