Itapira, por conta da passagem do “Setembro Amarelo”, iniciativa criada em 2015 em todo o Brasil para discutir a questão do suicídio, tem aprofundado neste mês a discussão a respeito do tema, com a realização de diversos eventos patrocinados pela Secretaria de Saúde e pela iniciativa privada.
Toda essa overdose de informações e discussões a respeito de um tema sempre muito espinhoso tem razão de ser, na avaliação unânime das autoridades de saúde locais. Os números comprovam que Itapira possui taxas bastante elevadas de pessoas que atentam contra a própria vida, superando as médias estadual e nacional.
Josemary Apolinário, responsável técnica pela Vigilância Epidemiológica do município, divulgou todas estes dados estatísticos durante sua fala para os colegas, em evento realizado no dia 20. Em média, nos últimos três anos, a cidade tem registrado por ano cerca de nove casos. No Brasil, são em média seis casos ao ano para uma população de 100 mil habitantes (veja os dados de Itapira ao final da matéria).
De acordo com os dados, o ano de 2017 foi aquele que apresentou maior quantidade de óbitos causados por suicídio: 17. No ano passado, foram cinco mortes na faixa etária de 40 a 49 anos, idades que apresentaram também o maior número de tentativas em 2022. Até o primeiro semestre do corrente ano, já são dois óbitos e 52 tentativas.
Segundo psicóloga Príncia Lanzoni, interlocutora da rede de atenção psico-social, a participação da V.E no evento de capacitação não ocorre à toa. “A questão do suicídio passou a ser tratada com epidemia. Compete à Vigilância Epidemiológica fazer os registros”, comentou.
A médica psiquiatra Dra. Adriana Roteli vai mais fundo. Segundo ela, o suicídio pode ser prevenido se funcionários da área da saúde e outros segmentos da sociedade, tiveram capacitação para perceber os indícios de que uma pessoa possui propensão em atentar contra a própria vida. Daí a defesa que faz dos processos de capacitação feitos nesta direção, dos quais tem sido uma das principais incentivadoras. Ela lembra que mesmo antes da chegada do Setembro Amarelo, em 15 de março deste ano, o tema foi alvo de um simpósio realizado no auditório da AIPA. “Temos que continuar falando sobre o assunto”, defendeu.
Precedente
Dra. Adriana lembra ainda que em Itapira, particularmente, as autoridades da saúde começaram a estabelecer uma mobilização mais intensa a partir de 2017, ano em que o total de casos na cidade “pulou fora da curva”, com 17 ocorrências. Autoridade no assunto, a médica psiquiatra observa ainda que são muitos os processos mentais que podem deflagrar uma situação limite e que estes casos precisam ser debatidos para que o profissional da saúde, de uma forma geral (não somente aqueles que lidam com a saúde mental) estejam treinados para perceber uma a existência de uma situação onde uma pessoa esteja a ponto de cometer suicídio.
Adriana Roteli considera ainda que o total de mortes relacionadas aos problemas de origem psíquica não se esgota com os casos de suicídio. Ela avalia, por exemplo, que muitas pessoas que fazem uso de substâncias tóxicas, e até mesmo do uso abusivo do álcool, podem ocultar problemas relacionados à depressão. Segundo seu entendimento, pessoas nesta situação podem, eventualmente, assumir a direção de um carro e se envolver em acidente que resulte em vítimas fatais.
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