O velho mercado municipal, localizado em pleno coração da cidade, na esquina das ruas Bento da Rocha e Campos Salles, Inaugurado que foi em agosto de 1954, pelo então prefeito municipal, o saudoso Antônio Calo (teve sua morte motivada em acidente de avião, em 14 de dezembro de 1962, quando estando ao lado do Comendador Virgolino de Oliveira, a aeronave, um Cesnna, pilotado por Alcebíades Botto, o Tito, ao sair do campo de pouso da Usina Nossa Senhora Aparecida, dando a primeira volta para rumar até a capital paulista, tendo sofrido uma pane caiu nas terras usinenses, ceifando a vida dos dois ilustres filhos de nossa terra e também de quem estava pilotando o avião), que dirigiu os destinos de nossa cidade, por duas gestões, 52/55 e 60/63, se bem que o seu segundo mandato não teve prosseguimento, quando faleceu naquele fatídico ano.
E aquele prédio com seus 69 anos, estaria completando quando o mês de agosto estivesse chegando no calendário, vai sofrer drásticas modificações em sua estrutura, quando a nova planta de reformas, depois de concluída, fará com que a sua visão seja apagada dos anais históricos de nossa cidade e ainda mais para com aqueles que estiveram negociando seus produtos, fossem eles de origens da terra, bem como aqueles manufaturados, como roupas, tecidos, calçados e miudezas, cujos pontos de vendas estavam acomodados dentro de suas dependências José Francisco Filho, o Zé Chico, foi o construtor do prédio.
E quando entramos naquele domingo, o último direcionado, tanto às bancas, como seus comerciantes, a memória foi buscar no passado distante, produtores que estavam aos sábados e domingos em suas bancas e expondo seus produtos para o agrado dos consumidores, ainda mais com as donas de casas, as quais não deixavam de frequentar o ponto, pois estavam se abastecendo de frutas e legumes, de carnes e tudo o que podia ser visto e comprado.
Entre tantos que estiveram vendendo seus produtos, conseguimos lembrar: Atílio Rossi, o Farineti Ricciotti, Armando e Paulo Poletini, José Maria de Campos, Antônio Aparecido da Silveira (Nico), Maria Viola, Américo Teixeira, Plácido Coraça, Carleto Martins, depois sua esposa dona Antônia Zibordi Martins, Zé Viola, que vendia arroz, depois o Zoroaldo, os irmãos Silveira composto pelo pai José Manoel e os filhos Pedro Benedito e Francisco Liberato, Messias Bernardino, Abílio e dona Laura Nakatsubo, o que vendia ovos na parte de baixo, Guido Ferreira Andrade, o ‘seo’ Pedro Germiniani, conhecido por Pedro Quejeiro, Adolpho Bellini (seu filho continua com a banca), Serafim, que vinha dos Pires, vendendo seus doces como rapadura, talhados. Mas foram tantos agricultores que traziam seus produtos colhidos na terra em que plantavam pelos sítios e chácaras da redondeza. Também dona Maria Hara e seus fihlos, Lazinho Franciozi, Romaninho Andreolli, dos Limas, Dulcidio Bacelar, O Galdi.
Jamais aqueles da época dos anos 50, imaginariam que o prédio do mercado inaugurado em 1954, depois de 69 anos de funcionamento estaria sendo desativado para sofrer reformas em seu conjunto, como a remodelar um ponto que tinha ou teve muita frequência, tanto aos sábados como aos domingos.
Naqueles dias da semana, era como se fosse uma verdadeira festa, pois o mercado era o ponto de encontro, ainda mais aos domingos, quando depois das celebrações das missas na Matriz Nossa Senhora da Penha, o povaréu vinha para o mercado, não só para fazer suas compras, mas também para os encontros entre conhecidos, amigos e parentes, não só os da cidade, mas também os da roça, aqueles produtores que estavam ao dispor de sua costumeira freguesia.
Podemos dizer ou escrever, que da roça vinha de tudo: arroz, feijão, milho, amendoim, batata doce, mandioca batatinha, cebola, alho, verduras como couve, almeirão, alface chicórea, rúcula, taioba, bacaúva, coquinho, caja manga, manga, laranjas, tangerinas, bananas, tanto a nanica, como a São Tomé, da terra para fritar, vassouras e até mesmo ervas medicinais como hortelã, poejo, manjericão, feixes de canas, abóboras, pepinos, flor de abóbora, cambuquira, jambos. Traziam também ovos caipiras e aqueles frangões de bom peso, sendo que um frangueiro de renome foi o ‘seo’ Jorge, morador no bairro dos Prados e também o Orlando Geraldo Rosário, que na época do Natal, sabia ofertar leitoas, prontas para levar ao forno e assar até chegar no ponto.
Aos domingos, era comum ver as carrocinhas dos sitiantes, que estavam estacionadas pela rua Campos Salles, descendo a mesma, virando a Sete de Setembro. Também animais de selas eram vistos por lá. Dificilmente alguma condução motorizada, pois pelos sitios o que tinha valia eram os veículos movidos a tração animal, como cavalos, burros, bestas, que amansados estavam atrelados nos varais das conduções.
Fervilhava de gente, não só dentro do mercado, mas também fora dele, gente bem trajada com direito a terno de missa, senhoras e senhoritas mostrando a elegância dentro de um vestido, mesmo que fosse de chita estampada, tecido em moda nos bons tempos em que as crises e carestias campeavam soltas, sendo que o dinheiro era muito custoso para ganhar, mesmo que o trabalho estivesse na ordem do dia, tanto na zona rural, como na cidade, em postos comerciais, industriais, escritórios, oficinas, que empregavam a mão de obra que estava ao dispor, num tempo em que o menor de idade, já como seus 13 ou 14 anos estava apto a procurar o mercado de trabalho, ganhando o suficiente para se manter, ajudar a família e conseguir guardar alguns trocados na Caixa Econômica Estadual, reserva que na certeza estaria lhe servindo para custear estudos ou até mesmo comprar os móveis de casa quando estivesse contraindo matrimônio, para então formar uma nova família e ‘tocar a vida’.
Ao mesmo tempo, lá estavam os moleques (eu mesmo tive um ‘veículo’ para transportar sacolas de lona da Alpargatas, da Rhódia, a mesma que fabricava os lança-perfumes com tubo metálico) com os carrinhos feitos de caixão de querosene com duas rodas de madeira calçadas com borracha. Estavam na espera de que as donas de casas, terminando suas compras e solicitavam o trabalho do ‘carreteiro’, os quais levavam as sacolas, sacos e cestas de bambu até suas residências. Eles já sabiam o endereço e seguiam ao lado das compradoras, quando o serviço era terminado, recebiam algumas moedinhas, até mesmo de centavos em forma de tostões. E voltavam apressadamente ao mercado afim de pegar outras encomendas e assim faturar um bom dinheirinho, o qual, muitas vezes servia para a compra de gibis, figurinhas, latas de graxa e escovas para engraxar sapatos (muitos eram engraxates, como eu fui e tinham os locais prediletos para o trabalho, como o Largo da Estação, o ponto de ônibus da Viação Cometa, o Bar da Alegria, do Soliani ou até mesmo no Largo da Matriz ou a praça Bernardino de Campos), comprar ingresso ou a entrada para assistir filmes e seriados no Paratodos, o cinema que estava na praça, bem ao lado do Bar Central e Centro Comércio e Indústria. Como era divertido e gratificante poder manter um carrinho para levar as compras das donas de casas…
Quantas lembranças saudosas com aqueles produtores que estavam aos domingos e aos sábados no mercado municipal. Não eram somente as compras feitas, mas também poder prosear com eles, saber de como andavam as plantações, as safras dos produtos como o café e arrozais se tinham vingado e produziriam bom arroz. Tudo era motivo de estar frequentando o mercado, ainda mais para poder ver velhos conhecidos, amigos e parentes, os quais sabiam de que eles lá estariam, mesmo que os vendo de relance, num cumprimento formal, um aceno de mão ou uma sentida despedida.
E quando podíamos entrar no mercado, de topo estava a banca do Teixeira, com dona Maria e seu filho José Américo, onde podíamos ver as deliciosas maçãs argentina, nas caixas apropriadas, elas que vinham do país que divisa com o Brasil. Lembramos que na caixa estava escrito: manzanas do Rio Negro e estavam embaladas num papel roxo. Aquele cheiro’ saboroso’ ainda parece estar impregnando o olfato…
E do lado direito para quem entrava no recinto estava o açougue dos Silveira, com o José e filhos, mais o Juquita Godoy e o Messias atendendo a seleta e constante freguesia, que ora pedia um quilo de bife, um quilo de carne moída, um pernil, costeletas de porco, costela de vaca, fígado bovino, linguiça, toucinho e banha de porco. Um ótimo e preciso atendimento era dado por quem dirigia aquele açougue do mercado municipal.
Lembramos também do Carleto Martins, com sua esposa dona Antônia e os filhos, onde estavam Antônio Carlos, José Francisco, Antonieta, Amélia, Ana e a caçula Silvia. Sabiam atender os fregueses, que ora pediam arroz, feijão, macarrão, sal, farinha de trigo e miudezas, pois aquela venda vendia de tudo um pouco para que as despensas dos consumidores em forma da dona de casa sempre estivesse suprida. Em tempos passados, quem esteve na sociedade com o Carleto foi seu irmão Olídio, que por sinal esteve como fiscal do mercado. E quem também fiscalizava e cobrava as taxas era o senhor Carlos Raffi Marangão, o Carlito, como ficou conhecido.
Com relação ao mercado, devemos lembrar que na esquina, estava montada uma venda, a qual tinha como sócios Leonardo Vergal, o Dinho Consorti e Renato Pereira, também conhecido futebolisticamente como ‘Padreco’. E ao lado do mercado, a outra venda do Leone Guerra, por sinal no mesmo terreno que nos dias de hoje o Marcelo Silveira, do Trevo Calçados está construindo o seu ponto de venda de calçados e acessórios, ele que por longos anos esteve nos box dentro do prédio.
No prédio onde hoje está o Café Inverno D’Itália, pelo Diego Stefano Cavenaghi, funcionou o Cartório do 1° Ofício do dr. Belmiro Pereira de Oliveira, que abrangia também o terreno onde está o Palace Hotel, dirigido que foi pelo bom mineiro José Bittencourt, o Zezé, falecido recentemente em 5 de dezembro de 2022.
Boas lembranças também para alguns dos moradores que estavam residindo por perto do mercado: Juliano Frassetto, Natale Butti (sua esposa dona Virgínia Bellini Butti, mantinha uma salão de cabeleireira na mesma rua), o prédio da Associação Comercial, que abrigou também a Escola Técnica de Comércio, onde estudavam alunos para se formar em auxiliares de escritório o contabilistas. Ali morou também o corretor Nico Miranda, João Manoel Galdi, proprietário da Farmácia da Fé, junto com o Henrique Maciel, Luiz Stringuetti, também foi açougueiro, Raul Pereira da Silva, Severino Sartori com sua esposa Cintra Fracarolli e seu filho Gustavo. Por sinal, a velha casa com seus cem anos de construção está sendo demolida e ali estará abrigando o ponto comercial da Adriana Mauch Puggina, que mantinha a sua loja de doces e miudezas no mercado municipal. A costureira Ebe Paoletti Breda, mantinha sua residência e salão de costura ali por perto. Já lá na esquina da Bento da Rocha estava o pequeno sobradinho onde moravam o casal dona Percidia e José Theodoro Pereira da Silva e seus filhos. Ele foi coletor federal em nossa cidade.
E boa parte dos itapirenses jamais imaginariam que depois de 69 anos de funcionamento o velho mercado inaugurado de em 1954, estaria sendo desativado para então com as reformas estruturais mostrar um novo ponto comercial, bem diferente do atual e com certeza novas instalações modernas, materiais mis vistosos do que o atual e até mesmo suas salas recebendo novos comerciantes, os quais estarão colocando em prática novos conhecimentos, novos maquinários para que possam atender seus clientes, agora bem mais exigentes do que aqueles que seguiam para as compras na certeza de encontrar de tudo um pouco para o abastecimento semanal de suas necessidades.
Agora, só resta esperarmos para ver no que será transformado o velho mercado, bem como o seu pátio ou todo o conjunto. Esperamos que possamos ver sua inauguração, assim como vimos aquela ocorrida em 1954, quando tínhamos apenas 14 anos de idade. Quem sabe, no ano que vem quando os 84 estiver pesando sobre os ombros, possamos ver in loco o que as novas instalações estarão mostrando. Esperamos que sim, pois caso contrário não veremos as belezas que um novo visual estará sendo inaugurado e mostrado pela atual administração de nossa cidade.
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