Todos possuem sonhos. A persistência é fator fundamental nesta incansável caminhada em busca das realizações pessoais, mas infelizmente muitos planos ficam pelo caminho por inúmeros motivos. Porém, desistir nunca fez parte do vocabulário do jovem Estevan Alexandre Izidro Novo, de 32 anos, aluno especial da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) carinhosamente chamado de Tete. Nem mesmo as limitações impostas por uma paralisia cerebral o impediram de realizar um de seus sonhos: lançar um livro biográfico no qual conta toda trajetória de superação.

some text


Com apoio de professores da entidade, da mãe Simone Eliana Lacerda e da estudante Andreza da Silva Pereira – que como colaboradora do projeto colheu as informações e escreveu a obra -, o sonho de Tete se transformou em realidade. ‘Superando Barreiras’ será lançado oficialmente na próxima terça-feira, dia 24, às 19h30, na sede da Apae. “Tete começou como aluno da Apae com 6 anos. Ele fez parte da primeira sala de crianças pequenas”, conta a diretora da associação, Lucineia Aparecida Louvato Baldessini, a primeira professora de Tete.

Estevan Novo é aluno da instituição há 26 anos. A ideia de escrever um livro partiu do próprio estudante, após participar das atividades de contações de histórias que eram desenvolvidas em 2011. “Ele sempre foi atento em tudo desde o início da alfabetização”, lembrou Lucineia. “Foi após a apresentação do livro ‘Vendedor de Sonhos’ que ele se inspirou”, complementou. Foi a partir daquele momento que informações, histórias e desafios enfrentados por Tete começaram a ser guardados, para quem sabe um dia incorporarem a concretização do livro.

Nesse caminho foram diversas tentativas e convites em busca de alguém que escrevesse a biografia – Tete tem a parte motora dos membros superiores e inferiores afetada pela paralisia. Até que durante a realização do Setembro Verde, mês destacado como referência à inclusão social dos portadores de deficiência, a turma da Apae participou de uma apresentação na Escola Estadual ‘Pedro Ferreira Cintra’, em 2018, e a ideia foi apresentada aos estudantes da unidade de ensino. Foi então que Andreza, aluna do terceiro colegial na época, abraçou a proposta e se prontificou a trabalhar no livro.

“Foi muito gratificante ter participado. É uma história inspiradora para mim e também para outras pessoas”, reiterou Andreza. Antes de iniciar a elaboração dos textos, ela chegou a participar de um dia inteiro de atividades na Apae, para conhecer de perto Tete e a maneira como ele se comunicava. Os dados começaram a ser colhidos junto à mãe e todos os professores que participaram do desenvolvimento do aluno. “Foi muito importante a participação dos professores, que ajudaram a interpretar o que ele queria dizer com a comunicação corporal e com a ponteira (acessório usado por Tete na cabeça para fazer as indicações)”, contou a responsável por escrever a biografia, que hoje é estudante universitária de Gestão Tecnológica e Informação.

Depois das páginas escritas, o próximo desafio foi concretizar a publicação do livro. Foi quando a comemoração dos 50 anos da Apae começou a ser preparada e surgiu a ideia de incluir o projeto do livro nas ações do Jubileu de Ouro. “A vida inteira dele está na Apae. Falamos com as empresas que estavam colaborando com a comemoração dos 50 anos e todas apoiaram a ideia”, destacou a assistente administrativa da entidade, Josiane Machado Nucci.

Foram produzidas 500 cópias de ‘Superando Barreiras’ e, coincidentemente, a noite de autógrafos ocorre justamente na Semana do Deficiente – de 21 a 28 de agosto. Tete agora se prepara para o tão sonhado lançamento. Ele irá autografar os livros de quem comparecer ao evento e segundo explicaram as professoras, o estudante treina para escrever a letra ‘t’ com o auxílio da ponteira acoplada à cabeça.

SUPERAÇÃO

A paralisia cerebral afeta a parte motora de Tete, tanto de membros superiores quanto inferiores, e acarreta movimentos involuntários e falta de controle dos membros. A fala também não é possível. Mas o guerreiro Estevan Novo foi aos poucos, com a ajuda de pessoas extremamente dedicadas, superando os próprios limites. “Ele dizia que queria aprender a ler. Queria ler livros”, ressaltou Lucineia.

Hoje Tete está alfabetizado e consegue até utilizar o computador. Foi um longo processo de aprendizagem, iniciado pelo conhecimento das letras e formação das sílabas. Quando aprendeu a ler, foram diversas tentativas para que conseguisse ler um livro ou uma revista sozinho. “Fizemos tentativas com velcro colado nas páginas das revistas. A que mais deu certo foi quando dobramos o canto das páginas e colocamos um clipe para que conseguisse virar”, contou Lucineia.

A ponteira é o acessório que Estevam mais utiliza para a comunicação, já que é com a cabeça que ele consegue manter o maior controle das ações. Com apoio do equipamento o estudante faz indicações no alfabeto, por exemplo, para se expressar com a sequência de letras. Uma história de superação inspiradora, que agora se transformou em livro. Mesmo diante de tantas dificuldades, Tete foi valente e nunca desistiu de aprender e concretizar um antigo sonho.

Estevan e as professoras da Apae: a materialização de um sonho regato a muita dedicação – Foto: Paulo Bellini
Lucineia Louvato, diretora da Apae e primeira professora do “Tete” – Foto: Paulo Bellini
Josiane Machado: muita dedicação para materializar o sonho do Estevan – Foto: Paulo Bellini
Ponteira permite que Estevan consiga se expressar – Foto: Paulo Bellini

Deixe seu comentário

Seu e-mail não será publicado.