O último domingo (8), ficou marcado com um resgate heroico no município. Em pleno dia dos pais, pai e filho ficaram presos dentro de um poço na região rural do Machadinho. O que poderia ter sido um dia trágico, acabou se tornando o resgate mais bem sucedido da vida de Heraldo de Assis Pereira Pacheco Santos, o “Santos” da Defesa Civil de Itapira, que desceu, literalmente, até o fundo do poço para resgatar com vida as vítimas. Um dia após o resgate, que causou comoção na população itapirense, Santos recebeu a reportagem do Tribuna de Itapira e contou sobre os desafios enfrentados no resgate.
Era pouco antes das 16 horas de domingo. A equipe da Defesa Civil estava em deslocamento para atender um acidente de trânsito, quando receberam o comunicado que uma criança havia caído dentro de um poço. “Retornamos a base para pegar o equipamento de rapel”, disse Santos, que já previa o tipo de situação que iria encontrar. Chegando no local, Santos conta que estavam os GMs Martinelli e Fonseca coordenando a situação em um primeiro momento. “A família toda estava em desespero. Queriam entrar dentro do poço”, disse.
Santos foi informado que, depois que a criança caiu, o pai tentou salvar o filho mas acabou caindo no poço e ficando preso também. A profundidade do poço assustava. Não se via nada além de um buraco escuro. “Era um pequeno buraco na tampa do poço onde o pai havia entrado para tentar o resgate. De cima não dava para ver ou ouvir nenhum dos dois”, comentou. Foi nesse momento que a coragem e determinação afloraram na pele do agente mais antigo da Defesa Civil, que chamou a responsabilidade para si e, levantando a mão para todos disse: “Eu vou entrar lá dentro e vou salvar os dois”.
A experiência de Santos ajudou muito na situação. Contando com aquela ocorrência, seria o 16º resgate da carreira do bombeiro. Foi então que a preparação do local começou a ser feita. A situação era delicada, pois a tampa do poço estava podre e se viesse a ceder iria matar a todos. “Martinelli ajudou na integração da equipe e a orientar sobre como deveria ser montado uma estrutura de madeira no entorno da tampa, para suportar o peso durante o içamento”, contou Santos sobre o apoio que recebeu do guarda municipal que estava presente.
Estrutura montada e devidamente equipado, Santos entrou pelo buraco que havia na tampa do poço. “Primeiro vou içar a criança e depois o pai”, disse Santos aos companheiros quando começou a descida no sentido da escuridão. A descida foi longa e, aparentemente, o poço tinha mais do que os 15 metros de profundidade informados. Ao chegar onde estavam o pai e o filho, Santos reparou que o pai estava em desespero e muito machucado. Ambos estavam mergulhados em cerca de 1,5 metros de uma água extremamente gelada. “Sou o Santos, estou aqui para te ajudar”, disse o bombeiro em tentativa de acalmar os dois.
“Coloquei a criança no equipamento e comecei a subida junto com ela”. Muito emocionado, Santos contou a reportagem a conversa que teve com a criança no momento da subida em direção a superfície. “No meio da subida a criança me perguntou: ‘Tio você vai buscar meu pai também?’, disse a ela que sim: ‘Eu te amo, salva o meu pai!’, e prometi a ela que iria voltar”, contou Santos com lágrimas nos olhos. Chegando na superfície, Santos entregou a criança nas mãos de Martinelli e, imediatamente, se preparou novamente para a descida, pois a missão ainda não estava cumprida.
O pai estava sangrando e com diversos ferimentos. Santos então vestiu o equipamento com muito cuidado e o preparou para a subida. “Selva!”, gritou Santos aos companheiros para darem início a subida do pai. Naquele momento, o herói do dia ficou sozinho no fundo do poço. “Fiquei sozinho no fundo daquele poço. Pedia a Jesus para que me protegesse”, contou Santos sobre o momento de temor que passou ao ficar sozinho na escuridão. A corda retornou e, dessa vez, era chegada a vez dele ser retirado do buraco.
A operação inteira durou cerca de uma hora. Segundo Santos, os procedimentos com a criança e o pai levaram pouco mais de 15 minutos. “Foi uma operação gloriosa. Levamos os dois para cima sem gravidade”, afirmou o agente da Defesa Civil. A surpresa, ao finalmente sair do poço, foi a quantidade de corda que havia sido usada no resgate. “Percebemos que tínhamos usado 56 metros de corda, portanto, o poço tinha 28 metros de profundidade e não os 15 metros que havia sido informado”, disse Santos, mensurando o tamanho do desafio enfrentado.
Santos contou que, fora do poço, o pai pediu para vê-lo. Agradecendo, o pai disse ao ‘salvador’ que o maior presente de dia dos pais que ele poderia ter recebido era o filho ter sido salvo. “Foi um milagre. De uma altura daquela, a queda poderia ter sido fatal”, comentou Santos. O bombeiro ainda contou a reportagem que a criança chegou a dizer que, quando caiu no poço, ela estava bebendo muita água, mas conseguiu subir pelo cano de água que tinha no fundo do poço até conseguir respirar.
“Fazemos cursos constantes para aperfeiçoar as técnicas”, afirmou Santos, que fez questão de ressaltar o apoio no resgate que teve de seus companheiros da Defesa Civil, Carvalho, Vicente e Luciano, do Grupamento de Bombeiros Voluntários de Itapira e dos GMs Fonseca e em especial Martinelli. “Não tem explicação o reconhecimento que tivemos pelo trabalho realizado”, frisou o bombeiro.
“Esse resgate, apesar de ter sido o mais difícil, foi o que se teve mais êxito e o que mais mexeu com o psicológico, por se tratar de uma criança”, contou Santos, o herói desse dia dos pais que, com muita técnica, força física e um bravo coração, permitiu que um pai e um filho tivessem a chance de vivenciar mais momentos um ao lado do outro.
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