A manhã do sábado, dia 23, foi bastante concorrida no campo de futebol localizado no conjunto habitacional Flávio Zachi (o “campo da Borbec”), onde o Projeto Social Esportivo FF (Futebol Feminino) costuma realizar os treinamentos das meninas que integram o projeto.

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O motivo da movimentação atípica foi a presença de uma “captadora” da
Associação Ferroviária de Esportes (AFE), tradicional clube da cidade de Araraquara, que vem se tornando potência no futebol feminino do país, tendo disputado – e perdido – recentemente o campeonato brasileiro para o Corinthians.

As atividades consumiram todo o período da manhã, quando cerca de 50 meninas na faixa-etária de dez anos de idade, puderam mostrar suas habilidades. Conforme explicou o almoxarife, Paulo Henrique Paulino Cardoso, 39, coordenador do projeto, vieram meninas de todas as cidades da região, inclusive do Sul de Minas.

Ao final, a “captadora” Karina Alt, selecionou 10 garotas que passarão a ser monitoradas pelo clube de Araraquara. Destas 10, oito são de Itapira, uma de Albertina e outra de Andradas, dois dos municípios mineiros representados na “peneira”.

O Projeto Social Esportivo FF completa no início do mês que vem um ano de implantação. Atende cerca de 50 meninas com idade entre 7 e 18 anos. Tem ganhado apoio da comunidade, inclusive da empresa IMBIL, que doou os uniformes.

O TRIBUNA DE ITAPIRA quis saber de Carlos Cardoso se ele aposta no potencial das meninas que foram indicadas pelo clube araraquarense. Ele disse que todas se destacam também nos treinos semanais, mas em particular, uma delas, uma “meia atacante” (preferiu preservar o nome das meninas) na sua opinião “é diferenciada” e “vai dar muito o que falar”.

A reportagem conversou também com Rafaela Esteves, coordenadora das categorias de formação de futebol feminino, da Ferroviária, a respeito de como funciona o processo de triagem das futuras jogadoras. Rafaela explicou que o clube realiza este tipo de “peneira” em diversas regiões do Brasil, sempre com a intenção de monitorar de perto futuros talentos.

Etapas

Ela conta que ficou sabendo do trabalho feito em Itapira por meio das redes sociais. Entre os primeiros contatos feitos no início de agosto, até a consumação do evento no último final de semana, decorreram mais de 30 dias. “Somente neste ano já fizermos 1.200 avaliações em todo o Brasil”, segredou a representante da Ferroviária, clube que se tornou uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol) recentemente.

Rafaela, que é natural de Campinas, explica que a partir deste primeiro contato, abrem-se as portas do clube para que essas meninas sejam conduzidas pelos pais, ou responsáveis, para participar de treinamentos do sub-13, que ocorre às 4ªs 6ªas e sábados. Aí começam as dificuldades.

O custo do deslocamento é bancado necessariamente pelos pais. Como se trata, na maioria dos casos, de meninas oriundas de famílias de baixa renda, a grande maioria não consegue dar sequência. Aquelas que conseguem, acabam sendo inscritas em torneios oficiais da Federação Paulista (FPF). Rafaela disse que o clube formador – pelas leis vigentes –  só pode acolher meninas para morarem nos alojamentos do clube, com idade a partir dos 14 anos.

Abaixo disso a ajuda é bastante limitada – geralmente restrita ao acompanhamento médico. Rafaela menciona que o clube possui mais de 60 meninas com idade abaixo de 13 anos (sub-13) participando regularmente das atividades, além de um outro grupo, dos 15 aos 17 anos, que “Já são residentes” e que segundo ela, “Têm asseguradas toda estrutura para dar continuidade ao processo de formação”.

Ela informou ainda que algumas cidades ajudam estas meninas, oferecendo transporte, alimentação e em alguns casos, até pouso, mas que são poucas as iniciativas neste sentido. O TRIBUNA quis saber ainda se no caso das “captadoras” intuírem terem observado alguma menina que seja “diferenciada”, se nesse caso o clube muda sua conduta, franqueando sua permanência na rotina de treinamentos, Rafaela informou que são muitas as variáveis que devem ser levadas em consideração, também nestes casos.

“O fato de uma menina se destacar nos treinamentos em um ambiente que está habituada, necessariamente não significa que vá ter o mesmo desempenho em outro tipo situação, onde vai encontrar dezenas de outras meninas imbuídas do mesmo propósito. Tudo isso tem que ser analisado”, finalizou.

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