O mês de julho deste ano ficará marcado para sempre na memória da farmacêutica Maryane Franco Brandão Schmidt, como aquele em que ela testou limites de sua resiliência, ao participar ao lado do pai, o aposentado Marylton Brandão, de 69 anos, de uma peregrinação que anualmente leva milhares de pessoas de todo o Brasil a percorrer o celebrado “Caminho da Fé” que conduz devotos até o santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, no Vale do Paraíba.
Maryane conta que se sentiu motivada a fazer a caminhada depois de ouvir muitos relatos de pessoas que já haviam aceitado o desafio. Para selar a participação dela e de seu Marylton, recorreu a uma outra itapirense, a aposentada Claudia Helena Cipola, espécie de “veterana”, que frequenta o roteiro de peregrinação há pelo menos 20 anos e que nos dois últimos, tem atuado como guia de peregrinos, cuidando do apoio.
Pai e filha participaram de um grupo que reuniu 38 pessoas, das quais, 26 eram aqui da cidade. A partida ocorreu a partir do Caminho da Fé, em Águas da Prata, no dia 02 de julho e foi completada uma semana depois, após o grupo cumprir todo o roteiro estimado em torno de 320 quilômetros.
A moça contou para o TRIBUNA DE ITAPIRA que tinha noção das dificuldades impostas – com base no testemunho de pessoas que já tinham feito o percurso – mas que a execução da caminhada na prática, a colocou no rol das pessoas que vivenciaram uma experiência indescritível de fé e devoção, dada as dificuldades superadas, especialmente relacionadas às limitações físicas que acometem a maioria dos peregrinos “de primeira viagem”.
Relatou que no início da caminhada, na base do entusiasmo, cada 2 km superados (contados por placas indicativas da cor amarela espalhadas por todo o trajeto) era motivo de comemoração. Maryane notou que além da enorme distância, características geográficas inerentes ao caminho, como inclinações bastante elevadas, representariam um desafio à parte.
Apesar de manter uma rotina de atividades físicas (Maryane é casada com Marcos Schimdt, professor de Educação Física, ex-secretário de Esportes e Lazer do município, o qual, conforme mencionou, deu a maior força para que levasse adiante seu projeto) revelou que ela e o pai intensificaram cerca de dois meses antes da ida a Aparecida, a rotina de treinamento. Disse que na preparação, chegou a fazer uma caminhada de 30 km até Serra Negra.
Lesões
Todas as precauções não foram suficientes, porém, para que sentisse na pele os efeitos de uma caminhada com as características da peregrinação. “Vi muitas pessoas com bolhas nos pés (muitos pés costurados), com torções nos tornozelos, cãibras, fadiga muscular. Foi algo que me surpreendeu logo no segundo dia do caminho, quando meu joelho deu sinais de que ia falhar e acabou travando. Senti muita dor, e fiquei receosa de que a caminhada não ia muito longe”, comentou. Além disso, desconhecia uma recomendação que costuma ser muito útil, a de calçar um par de tênis com numeração acima daquela utilizada. “Bateu a preocupação de forçar demais e agravar a situação. Mas então, tive o apoio do meu pai, o carinho e atenção da maioria das pessoas do grupo e daquelas pessoas que vamos conhecendo no caminho”, relembrou.
Experiências
Maryane conta que foi nesses momentos de dúvida que acabou recebendo apoio de diversas pessoas, inclusive, de peregrinos que o grupo encontrou pelo caminho. Muitos deles traziam relatos de experiências anteriores e enfrentaram problemas parecidos, ou até mais sérios do que ela encarava naquele momento.
De acordo com sua percepção, enfrentar e superar aquele estado de dificuldades a ajudou a perceber que aquele movimento de pessoas fortalecia o requisito essencial da caminhada que ia além da resistência física, algo que as pessoas chamam de “fé.
“Foi um momento muito difícil. Entendi, naquele momento, que eu precisava desacelerar e acolher a minha dor, percebendo o que ela era irrelevante diante das dores que minha mãe enfrenta a tantos anos no joelho; diante da dor que Jesus Cristo sofreu por nós quando carregou a cruz para nós salvar, ou então da experiência vivida diante de tudo que minha irmã (que eu perdi a um ano) passou na luta contra o câncer; o que era aquela dor diante de tantos pais que perdem seus filhos?”, refletiu.
Testemunhos
Outra experiência marcante descrita por Maryane Schimdt diz respeito à interação com peregrinos encontrados no trajeto, que vinham de diferentes localidades, cada um, trazendo um testemunho de superação, que ao final convergia para um mesmo ponto, a elevação da fé.
Entre os muitos relatos, falou da interlocução com um peregrino chamado Armando, de Ribeirão Pires (na grande São Paulo). “Armando percebendo minha dificuldade na descida de um morro muito íngreme, se ofereceu para fazer uma oração para o meu joelho e claro, eu disse que sim. Aquele gesto mexeu tanto comigo. Pensei, ‘como assim ele nunca tinha me visto, porque estava fazendo aquilo para mim?’. Ele se ajoelhou e senti a força da oração. Percebi o tamanho da fé que ele tinha e que foi transmitida para mim. Foi um momento onde tive certeza de que iria cumprir o trajeto caminhando. São momentos como esse que fazem da caminhada uma experiência incrível, momentos de orações em intenção das pessoas que nos pediram, o contato com a natureza, as novas amizades, os sorrisos e alegrias que se misturam ao longo do caminho. E quando chegamos ao nosso destino a sensação de alívio, de superação a emoção de chegar na casa de Nossa Senha Aparecida com aquelas pessoas que conviveram conosco nos últimos 12 dias, algo indescritível”, finalizou.
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