Com o início da vacinação infantil contra a Covid-19 no município, a equipe de reportagem do Jornal Tribuna conversou, com exclusividade, com a médica pediatra, Ticiane Melo Moreira, 32, que falou sobre o assunto, e apresentou uma série de orientações sobre como os pais e responsáveis que optarem pela imunização de crianças devem proceder, além de alertar sobre as recomendações que precisam ser seguidas. “Quando você mede prós e contras você tem muito mais a favor. Mas, claro que isso é uma decisão única e exclusiva dos pais. Meu pedido especial é que os pais pensem em todas aquelas vacinas que eles já acreditaram até hoje e proporcionaram aos seus filhos. Vacinas salvam vidas”, enfatiza a médica.

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Ticiane é graduada em Medicina pela Universidade do Vale do Sapucaí-UNIVAS e possui residência médica em Pediatria pela Fundação Centro Médico de Campinas. Atua como Médica Pediatra da equipe do Pronto Socorro Infantil do Hospital e Maternidade Madre Theodora de Campinas. Ela é pediatra do Hospital Municipal de Itapira e membro ativo do corpo clínico da Santa Casa de Itapira. É especialista em pediatria pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pós-graduanda em Nutrição Materno Infantil pela FAPES. Além de realizar atendimentos em consultório particular.

Jornal Tribuna de Itapira: Explique, por favor, a importância da imunização infantil? Ticiane: Nós não estamos num momento de polemizar mais nada do que já está sendo polemizado. O intuito meu como pediatra, e de vários outros colegas, é apenas orientar e conscientizar os pais. É aceitável todas essas dúvidas que os pais estão tendo, esse medo, receio, até porque a gente está passando por um período que a internet bombardeia notícias e fatos, às vezes, muito mal vistos. Os pais são bombardeados pela internet, pelo telejornal e por notícias, às vezes, que não são nem cabíveis sobre a vacina. Então, primeiramente, eu como pediatra sou a favor da vacina contra a Covid-19 nas crianças. Mas essa é uma decisão estritamente dos pais. As recomendações pra receber as doses da vacina são para todas as crianças de 6 a 12 anos, não há contra indicação e nessa última semana, além da vacina da Pfizer – que foi a primeira a ser aprovada para essa faixa etária – nós tivemos a liberação aqui no Brasil da Coronavac para crianças a partir de 5 anos. Mas já temos estudos que provavelmente daqui uns meses vai ser liberado para crianças a partir de 3 anos. Então a orientação e recomendação é que todas as crianças nessa faixa etária de 5 a 12 anos nesse momento recebam a primeira dose da vacina.

E o que é esperado como efeito da vacina? Efeitos leves como qualquer uma das outras vacinas que nós temos em todo o nosso calendário de imunização nacional. Então são sintomas muito leves, tem crianças que nem vão apresentar, mas pode ocorrer uma dor no local da aplicação, uma vermelhidão, febre, mal-estar com dor no corpo, mas tudo leve, e pode durar dois a três dias no máximo. Então, são efeitos muito leves perante o que a doença (Covnid-19) pode causar. As pessoas dizem: ‘Ah, mas até hoje a Covid tem sido muito leve nas crianças’. Não é bem assim. Quando a gente analisa os números, hoje desde o início da pandemia aqui no Brasil, nós tivemos 2.800 óbitos de crianças por Covid. Então 2.800 mortes dessa faixa etária não foram casos leves, foram casos graves que levaram a óbito. Então não dá pra gente esperar que sempre seja leve, ‘ah, mas meu filho já pegou uma vez e foi muito leve o sintoma, foi só o nariz escorrendo, uma febrinha baixa, uma tossinha’, mas quem garante que numa segunda vez, uma terceira vez, vai ser igual?

O que orienta aos pais? Nós estamos num momento em que eu peço aos pais muita reflexão. E a primeira pergunta que eu sempre faço pra aqueles que são meus pacientes, e que me procuram pra tirar essas dúvidas, é essa: ‘Você pai e você mãe, você se vacinou?’ ‘Você tomou a vacina?’ a maioria diz que sim. A maioria dos pais se vacinou, então por qual motivo privar o seu filho quando chegou a vez dele?  Nesse momento a gente está falando de ciência, nós não estamos generalizando opiniões extremas, de gente que não tem embasamento. Então, quando os pais procurarem tirar as suas dúvidas, que seja com o pediatra do seu filho, com alguém capacitado para explicar, pois quando a gente explica com embasamento científico as dúvidas que eles têm, mostra os estudos que foram feitos para liberar a vacina nessa faixa etária, o entendimento deles fica melhor e dessa forma eles se sentem seguros.

O que sabemos sobre a vacina? A gente já sabe tudo sobre a vacina? Tudo não, mas tudo que a gente sabe até agora, o que os estudos nos mostraram é que tem toda segurança necessária para estar liberada para aplicação nessa faixa etária. Ninguém está sendo cobaia. A vacina da Pfizer, por exemplo, passou pelas três fases do estudo, se você pegar o estudo de liberação está tudo explicado. Aí vem aquela pergunta que muitos pais e mães fazem: ‘eu ouvi falar que deu miocardite’ pode acontecer?’. Pode. Só que são casos raríssimos e os que tiveram e foram relatados, apresentaram miocardites muito leves sem necessidade de internações em UTI e que se recuperaram rapidamente. Por exemplo, nos Estados Unidos eles já vacinaram nove milhões de crianças e 12 tiveram miocardite leve sem necessidade de internação em UTI e se recuperaram, não foram a óbito. Agora, a miocardite que pode ser causada pela Covid-19 é muito mais grave do que a que pode ser causada pela vacina. Nós temos que pensar que a Covid é uma doença que se pode prevenir com vacina, assim como várias outras. Tomamos vacinas ao longo da vida. A gente nasce tomando vacina, na sala de parto o bebezinho nas suas primeiras horas de vida já recebe a primeira dose da vacina contra hepatite B, depois a BCG (contra tuberculose), depois com dois meses vem aquele monte de vacinas também.

Porque algumas pessoas tomam vacina e pegam Covid-19? Tem muita gente tomando vacina que ficam doente e pegam Covid. Mas quem falou que a vacina vai livrar de doença? Não é exatamente isso. A vacina pode sim nos livrar da doença, mas caso sejamos infectados ela vai diminuir a gravidade. Dentro do nosso sistema imunológico ela vai diminuir a replicação viral, e quando você tem o bloqueio dessa replicação viral, você tem sintomas leves e não evolui com sintomas graves que podem ser fatais. Então é isso que a vacina vai nos proporcionar. Assim com a vacina da influenza. Por que a gente toma todo ano? Porque o estudo mostrou que a imunidade dela não é eterna, então a gente produz anticorpos, tem picos, depois acontece a queda, então todo ano a gente vai tomar. Quando surgiu o H1N1 era desse jeito (pandemia de Covid-19), a gente teve muitos casos graves e fatais que foram diminuindo ao longo dos anos após a vacinação em massa. Então a gente precisa fazer isso agora com a Covid, e chegou a vez das crianças para que essa pandemia vá embora. A doença Covid vai continuar existindo e vai ser através da vacina que nós vamos conseguir viver e evitar ter sintomas graves e morrer. E isso vem para nossas crianças agora num momento muito importante. Então eu peço aos pais muita consciência e reflexão. Converse com seus pediatras para se sentirem mais confortáveis. Para tirar essa angustia que eles têm tido com tanta notícia, fake news. Procurem sim informações. Procurem tirar suas dúvidas com pessoas que estudam para a medicina. Hoje em dia todo mundo virou cientista, e não é bem assim né? Então que os pais conversem com quem realmente estuda para dar essas informações e eles se sintam seguros para optar por vacinar seus filhos.

O que fazer quando vacinar a criança? Sempre que forem aplicar as vacinas a orientação é aguardar no local depois da aplicação, de 15 a 20 minutos. Outra recomendação é que no dia que for tomar a vacina contra a Covid, tome só esse e aguarde 15 dias para tomar outras. A recomendação para crianças positivadas é aguarde 30 dias para tomar a primeira dose da vacina. Se a vacina vai ser anual ainda não sabemos, não temos essa resposta. Mas vai ser necessário a segunda dose e a indicação é um espaço de tempo de mais ou menos de 20 a 30 dias de uma dose para outra, assim como foi com os adultos. Já está mais do que provado que a vacina não causa parada cardíaca. Nós podemos esperar apenas dois efeitos da vacina, aquele efeito colateral que vem da própria resposta do corpo e aquelas contra os componentes da vacina que são mínimos. A vacina da Pfizer só tem dois componentes: o RNA mensageiro envolvido por uma nano partícula de gordura de lipídio e polietilenoglicol numa micro dose.

No caso de ter alguma reação, algum sintoma, qual a recomendação? A qualquer sintoma pós vacina o pai e a mãe devem entrar em contato com o seu pediatra relatando o ocorrido para serem orientados do que fazer, e como fazer. É pediatra que pode te dizer se dá para usar algum analgésico, porque a maioria dos sintomas esperados são leves e podem ser resolvidos com o bom e velho paracetamol. É claro que se tiver algum sinal de gravidade o seu médico vai orientar e então talvez você deva procurar um pronto socorro, mas a orientação de procurar um pronto socorro é só em casos de sintomas graves ao qual não esperamos.

Alguma orientação final? Lembrando sempre, nesse momento, pôr na balança: eu espero que meu filho tome a vacina e não tenha efeito ou tenha efeitos leves, mas esteja com essa proteção, ou vou precisar passar pela doença, correr o risco de ter uma complicação, lembrando que a Covid-19 pode deixar sequelas permanentes como, por exemplo, neurológicas. Quando você mede prós e contras você tem muito mais a favor. Mas, claro que isso é uma decisão única e exclusiva dos pais. Meu pedido especial é que os pais pensem em todas aquelas vacinas que eles já acreditaram até hoje e proporcionaram aos seus filhos. Vacinas salvam vidas e essa fase que a gente está passando na pandemia. Nós já estamos tendo uma boa resposta na rapidez dessas vacinas, porque nós tivemos períodos muito difíceis no início de pandemia. Então que esses pais e mães pensem com muito amor e carinho na saúde dos seus filhos, porque eu repito: vacinas salvam vidas.

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