O falecimento do ex-jogador de futebol Pelé, nessa quinta-feira, dia 29, está causando uma comoção mundial. Tricampeão mundial com a seleção brasileira, estava internado havia um mês para tratamento de um câncer no cólon mas acabou não resistindo. A família ainda não divulgou detalhes sobre o velório, mas uma estrutura foi montada na Vila Belmiro nos últimos dias para receber a vigília. O sepultamento ocorrerá em Santos.

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Nem o enorme lapso de tempo que separa a carreira “do atleta do século XX” (título conferido em 1980 pelo jornal francês L’Equipe) dos dias atuais apaga a mística que Rei Pelé possui entre desportistas do mundo todo.

Aqui em Itapira não é diferente. São escassos aqueles torcedores aqui em Itapira ainda vivos que tiveram oportunidade de ver Pelé desfilando sua majestade nos campos de futebol. Mas eles existem. Esse é o caso do empresário Plínio Cremasco, hoje com 91 anos de idade.

Em conversa com o TRIBUNA DE ITAPIRA a respeito da trajetória de Pelé, que conheceu muito de perto, Cremasco exibia um brilho nos olhos. Ele próprio ex-atleta profissional (atuava na ponta esquerda, influenciado por seu tio, José Pereta, por ele definido como “o maior jogador de futebol que Itapira já revelou”, colocando-o à frente do imortal Hideraldo Luiz Bellini) perdeu as contas de quantas partidas do Santos FC com Pelé em campo ele assistiu.

Mas duas ocasiões foram emblemáticas segundo Plínio Cremasco. A primeira, num amistoso contra a Argentina, preparatório para a Copa do Mundo de 1958 (primeiro título da Seleção Brasileira, que teve Bellini como capitão da equipe) disputado no estádio do Pacaembu, em 1957. Paulo. O segundo, foi disputado na distante New Jersey, arredores de Nova Iorque, quando Pelé defendeu a equipe do Cosmos.

Plínio Cremasco contou que em 1957 já ouvia comentários a respeito do gênio precoce de Edson Arantes do Nascimento. Movido pela curiosidade e paixão pelo futebol, foi a São Paulo acompanhado do saudoso Doracy “Dinho” Baldassini. Ele diz recordar que o Brasil venceu por 2×0 e Pelé marcou um gol. “Acabado o jogo, eu e o Dinho nos dirigimos até o vestiário da seleção brasileira. Nós nos apresentamos ao rapaz que controlava o acesso ao local como amigos de Bellini, que tínhamos vindos de Itapira e pedimos que o chamasse. Bellini veio nos receber, ficou muito contente, fez a maior festa quando nos viu. Em determinado momento observei num canto aquele rapaz mirradinho, cara de menino. Era o Pelé. Bellini o chamou e fomos apresentados”, relembrou.

Cosmos

A outra passagem ocorreu em 1976, quando Plínio Cremasco viajou até Nova Iorque para fazer uma visita ao filho Ari, que aos 17 anos cumpria intercâmbio cultural nos Estados Unidos. Coincidentemente, naquele final de semana o Cosmos iria jogar em casa pela liga norte-americana. Plínio conta que se recorda que Pelé aprontou das suas naquele jogo, marcando 4 vezes e um deles, aqueles gols antológicos que se tornaram uma marca em sua carreira, driblando toda defesa adversária.

Mas, o mais interessante ocorreu após a partida. Plínio e Ari decidiram conhecer o estádio mais de perto e ganharam acesso ao gramado, onde algumas pessoas batiam bola. “Fomos participar da brincadeira e passamos a fazer aquelas coisas que os brasileiros fazem e que despertam encantamento em quem não está acostumado, como embaixadinhas, colar a bola no peito do pé, domínio no peito, na cabeça, esse tipo de coisa”, detalhou. O que ´pai e filho não contavam era o fato de que dentro de um carro que passava perto do local onde faziam suas demonstrações, alguém mais prestava atenção. Era Pelé. “Ele nos chamou e tivemos uma breve conversa. Perguntou de onde éramos e até chegou a nos convidar para jantar com ele, algo que infelizmente não deu certo devido à agenda apertada da minha viagem” relatou Plínio Cremasco.

Comparações

O TRIBUNA quis saber de Plínio Cremasco a respeito um certo desdém com que as gerações mais novas tratam das comparações feitas com relação a Pelé e outros jogadores geniais que surgiram depois dele, sendo os casos mais específicos de dois argentinos: Maradona e Leonel Messi.

Segundo seu entendimento, são três fora de série, mas coloca Pelé “uma prateleira acima”. “Pelé foi um jogador completo. Além da explosão física, das arrancadas, dos dribles e da incrível capacidade de finalizar a gol, era um jogador cerebral. Antevia cada jogada e sabia se posicionar dentro de campo de forma a superar a marcação. No plano individual Maradona também foi um atleta genial. Mas faltava a ele essa condição de se encaixar no coletivo. As equipes onde atuou jogavam em função dele. Com relação ao Messi, enxergo nele também a genialidade dos fora de série e a condição de um jogador cerebral, que também enxerga o jogo taticamente. Para mim é aquele que mais se aproxima de Pelé”, analisou.

Para finalizar, a reportagem quis saber de Plínio Cremasco qual o clube que Rei Pelé mais aprontava das suas, se contra o seu Palmeiras (Plínio Cremasco descende de uma geração de palmeirenses) ou contra o Corinthians. A resposta, claro, não poderia ser outra: “O Pelé tinha um prazer especial de enfrentar o Corinthians”, arrematou.

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