Ainda repercute na área da saúde de Itapira a comemoração dos 18 anos da criação do ambulatório Álcool e Drogas da Secretaria Municipal de Saúde (Caps AD). O TRIBUNA DE ITAPIRA trouxe na edição de 25 de novembro, uma entrevista com o psicólogo José Antônio Zago, coordenador da equipe multidisciplinar que atua junto ao Caps AD.

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A novidade é que Zago, dentro do período de festejos, anunciou o lançamento de um livro de sua autoria (“A lógica dos Centros de Atenção Psicossocial”) onde se aprofunda no diagnóstico sobre os desafios deste tipo de atendimento cada dia mais necessário.

A médica psiquiatra e psicanalista Adriana Rotelli Resende Rapeli, uma das profissionais que atua no Caps AD desde 2005, decidiu dar sua contribuição ao debate em torno da importância do equipamento, através de um artigo onde expõe sua visão qualificada a respeito de temas complexos e abrangentes desfiados por Zago neste seu novo livro.

“Achei importante comentar o livro que ele escreveu sobre os 18 anos do Caps AD. Além de me sentir honrada de participar deste trabalho no Caps AD, valorizo o conhecimento sobre aquilo que fazemos. Acredito que pensar sobre as dificuldades do trabalho nos ajuda a sermos profissionais e pessoas melhores”, propõe. Confira:                  

Adriana Rotelli Resende Rapeli(*)

“Infelizmente, de modo geral a sociedade, em certo sentido, está ainda no mundo medieval quando se refere ao dependente de drogas. A primeira atitude que a sociedade quase sempre tem com essas pessoas é a exclusão, quer pela internação, quer pela marginalidade. Um avanço pequeno é quando se tenta eliminar a droga (e não a pessoa pela exclusão), mas esse desafio é praticamente impossível.  Nossos esforços, nesses 18 anos de atividades, tem sido uma busca diária para quebrar preconceitos, porque compreendemos que são pessoas que necessitam de ajuda especializada, portanto, uma atitude inovadora em relações humanas. ”

Esse trecho é extraído da conclusão do livro De José Antônio Zago A LÓGICA DOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, publicado este ano pela Editora Letras e Versos. Zago é psicólogo, Mestre em Educação, graduado também em Filosofia além de pós-graduado em Saúde Mental e autor de 10 livros nas últimas 3 décadas. Ele também é o coordenador do Centro de Atenção Psicossocial para álcool e outras Drogas “Raineri Baiochi” de Itapira desde a sua inauguração em 2005. É ao CAPSad que Zago dedica o livro, agora que completamos a nossa “maioridade”.

Estou no CAPSad também desde seu início em setembro de 2005 e, para a minha e talvez a nossa sorte como colegas de trabalho, é a sintonia com o pensamento de tentar uma atitude inovadora, buscar o novo como ciência. Não repetir o conhecido, conhecer. Numa área tão marcada pela visão preconceituosa e cheia de estigmas, essa é uma postura valiosa e difícil.

Nossas ações são as construtoras de relações humanas – que podem ser ou não saudáveis. Somos nós que criamos a vida e os caminhos de um serviço, buscando integrar usuários e famílias. Zago associa à bela imagem de o CAPSad ser como um fio, um vínculo, que no tecido social, que inclui / recupera o dependente químico – ao tecido /rede social. É uma ideia interessante, de sermos pontos, nós, vínculos. Nós nos fios da rede (a rede RAPS teria também essa ideia de integração), para o tecido dar conta desse adoecimento mental que é multifacetado em causas e consequências. E é também por isto que nosso usuário requer a atenção biopsicossocial. Uma equipe multiprofissional e a integração com outros recursos de saúde e sociais do município.

Usando seus conhecimentos de filosofia, Zago integra conceitos da lógica de Popper para expor em 13 teses e argumentos em que busca as premissas verdadeiras para conclusões verdadeiras: procura mostrar como os cuidados terapêuticos em saúde metal partem de premissas como a dignidade, liberdade e respeito humanos sem as quais nosso trabalho seria uma falácia.

Algumas de suas teses nos mostram importantes conceitos em tratamentos de saúde mental, especialmente da dependência química:

-A visão das pessoas com sofrimento mental, não a visão de doenças.

-A necessidade do acolhimento para a tentativa da criação e fortalecimento do vínculo entre usuário, equipe e familiares, lembrando o mau atendimento que doentes mentais em geral e os dependentes químicos mais ainda têm em serviços de saúde no país e no mundo.

-O cuidado de uma postura não autoritária, a busca por ações terapêuticas que visem o caminho da dependência para a autonomia.

– A noção da cronicidade e gravidade desse adoecimento mental, daí a importância da perseverança e o preparo técnico da equipe, em humildade socrática de sempre aprender, estudar, produzir conhecimento.

Termino com o início do livro, a dedicatória que Zago faz a nós, profissionais da saúde mental, que possamos ser fermento na massa. Essa metáfora, já antes usada por Zago para nomear um grupo que tínhamos no nosso CAPSad com várias instituições sociais, educacionais e de saúde do município, lembra-nos de uma visão esperançosa, mesmo poucos e com ações pequenas, podemos fazer a diferença.

Zago tem sido como esse fermento para nossa equipe, para o CAPS, nossos usuários, além de em sua vida familiar e como professor de psicologia. Seu papel nos ajuda, dentro do que como neste livro procura mostrar, o papel de cada um de nós profissionais para estimular o protagonismo do usuário. E também o nosso papel. O livro é um importante documento de um trabalho cuidadoso para a saúde mental de nosso meio. Agradeço a oportunidade de lê-lo e sugiro a leitura aos interessados.

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