O lançamento de um livro escrito a quatro mãos pela microbiologista Natália Pasternak e pelo jornalista Carlos Orsi, abalou no final de julho, parte da comunidade científica nacional. Intitulado “Que bobagem!”, o livro coloca em xeque a eficácia de tratamentos à base de homeopatia, acupuntura e até a psicanálise, tratadas pelos autores como “pseudociências”.

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As reações, como não poderia deixar de ser, foram as mais diversas, tanto apoiando as conclusões da obra, quanto questionando sua motivação e argumentos. O empresário e psicanalista Antônio de Pádua Colosso, 68, considera que este provocativo este tipo de abordagem, no que diz respeito especialmente à psicanálise, atividade com a qual está relacionado a mais de 20 anos.

“Acho no mínimo uma leviandade a forma como os autores fazem seus questionamentos sobre a eficácia da psicanálise”, colocou. Pádua Colosso não só defende os resultados dos métodos utilizados pelos profissionais da área, como remete ao criador da psicanálise, o neurologista e psiquiatra austríaco, Sigmund Freud (1856-1939), a condição de uma “das cinco mentes mais brilhantes da humanidade”. “É inestimável os benefícios que a psicanálise produz até os dias de hoje na resolução de problemas de saúde na área da psiquiatria que a medicina convencional não produz resultados. Impossível mensurar quantas pessoas tiveram uma melhor compreensão de problemas aparentemente insolúveis do ponto de vista clínico, a partir de um divã”, reforçou.

O fisioterapeuta José Luiz Mixtro, 63, é um dos profissionais que a mais tempo oferecem tratamento na cidade com base na acupuntura, cujo estudo tem se aprofundado desde quando se formou. “Acho que esse tipo de discussão é estéril porque é colocado sob um prisma materialista, cartesiano, que despreza tudo o que é subjetivo”, minimizou ao ser confrontado com a avaliação feita pelos autores do livro.

Mixtro considera que a maior evidência de que os conceitos da forma como foram colocados pelos autores, “são equivocados”, é a existência, segundo ele, de um número incalculável de pacientes que foram bem sucedidos nos tratamentos a que se submeteram com o uso da acupuntura – a milenar forma de medicina alternativa com origem na China e que se utiliza de agulhas para explorar centros de energia do corpo humano.

Placebo

Foi com relação à Homeopatia que o livro pegou mais pesado. Os autores chegam a comparar o tratamento oferecido por este ramo da indústria farmacêutica como sendo “uso de placebo”, pílulas sem eficácia usadas em ensaios científicos para teste de medicamentos.

“É um assunto controverso, que não é propriamente uma novidade. A homeopatia sempre teve seus detratores”, analisa o cirurgião dentista Paulo Zelante, de 65 anos, especializado em homeopatia odontológica e que faz uso de medicamentos com este perfil. Zelante considera um erro fazer comparações entre os remédios alopáticos (convencionais) e homeopáticos. “Trata-se de uma simplificação que acaba sendo prejudicial na forma e no conteúdo, já que cada caso, é um caso. Não dá para generalizar e principalmente, defendendo a imposição de uma verdade absoluta que a rigor não existe”, ponderou.

O TRIBUNA ouviu ainda a opinião de uma profissional que interage a quase 30 anos com a formulação e uso de medicamentos homeopáticos. A profissional – que pediu anonimato –  disse que desconfia da abordagem feita pelos autores do livro.

“Em todas as áreas temos profissionais muito bons e outros nem tanto. Mesma coisa ocorre com a homeopatia. Tem uso reconhecido por exemplo na Alemanha, na França, e também no Brasil. A exemplo da alopatia, não tem cura para todas as doenças. Paciente com câncer, claro, tem que fazer o tratamento alopático. Vai ter cura na alopatia? Às vezes tem, outras vezes não tem. É possível associar homeopatia para ajudar (em diversos tratamentos)? Evidentemente que sim. Todas as ciências têm suas limitações. Possuo formação em homeopatias há 33 anos. Quando meus filhos adoeceram, usei somente homeopatia, nunca usei antibióticos, e jamais apresentaram algum tipo de complicação que levasse à necessidade do uso de outra forma de tratamento. O Conselho Federal de Medicina já reconheceu a homeopatia e a acupuntura como especialidades, como eles aprovariam uma especialidade que não tem resultados de cura, ‘que está enganado o paciente’ e ainda pior, ‘mascarando os sintomas das doenças’?”, colocou.

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