Há alguns meses, áudios e gravações de conversas começaram a movimentar os grupos de whatsapp e redes sociais. Os envolvidos e citados não eram quaisquer pessoas, mas sim vereadores, pré-candidatos e até o prefeito Toninho Bellini.

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Em um primeiro momento, muito foi citado das conversas serem falsas, que teriam sido criadas por inteligência artificial, afirmações estas que “caíram por terra” na última terça-feira, 9. Isso porque a vereadora Maísa Fernandes (PSD), que compõe o grupo situacionista na Câmara, em vídeo publicado em sua rede social, admitiu ser a responsável por todas as gravações.

As conversas possuem diálogos que mostram os bastidores da política itapirense. Supostamente, cobrança de favores, distribuição de verba, compra de votos, secretarias aparelhadas com interesses pessoais e até planejamento para o pós-eleição.

Em seu pronunciamento (veja no decorrer da reportagem) Maísa afirma que áudios e vídeos foram modificados e tirados fora de contexto, e ainda falou que o que foi feito era um “crime cibernético”. Na nossa reportagem, o Tribuna se apegou às conversas gravadas pela atual vereadora que foram compartilhadas e vídeo publicado na última terça e traz a seguir os seus conteúdos.

Conversas

Entre as conversas gravadas, uma é entre Maísa e Toninho Bellini. A gravação começa com a vereadora dizendo “Eu não estou falando pra você que eu quero R$ 150 mil. Você me ajudava com o aluguel, agora eu devo o aluguel e o carro. Então você pense o que você pode fazer pra me ajudar. Sei que você já está ajudando a Beth”. O Prefeito fala poucas palavras no trecho divulgado, apenas “eu sei, eu sei”.

Maísa continua, reforçando que iria apoiar o Prefeito, fosse retirando seus conteúdos ou ficando quieta quando necessário. “Então o que você decidir eu estou com você e com o grupo. Eu não vou me bandear pro lado de lá, apago todas as publicações, não vou falar nada. O que eu tiver que subir pra elogiar eu vou, o que eu não tiver que falar eu fico quietinha. Mas eu queria sair daqui fechado contigo”.

Essa conversa foi divulgada junto com outra no mesmo vídeo. Maísa novamente está presente no diálogo que, dessa vez, acontece junto com Ronaldo Vitório, agente da Guarda Municipal, e José Vicente da Costa Júnior, o “Junião”, atualmente presidente do PRD (Partido Renovação Democrática) e apoiador de Toninho Bellini.

Maísa começa falando sobre a vereadora Beth Manoel (MDB), dentro da mesma questão que havia sido citado na conversa com Toninho Bellini. “O que eu fiquei sabendo é que ela está recebendo R$ 4 mil e ganhou um lote”. Na gravação uma resposta vem de Junião – “não, ela vai começar a receber em janeiro, esse é o acordo”.

Vitório fala então de supostos desvios que estariam acontecendo em Secretarias da Prefeitura. “Tem um monte cupincha roubando pra c… e ai ia acabar, tanto lá na guarda como que em um monte de secretaria”.

Essa gravação se encerra com Maísa se referindo ao vereador André Siqueira (MDB). “O André me contava as coisas, falava pra mim que comprou uma casa no Recanto União, que comprou uma casa no Santa Bárbara e depois que ele começou a ver que eu comecei a descobrir as coisas ele parou”.

Conversas 2

O trio Maísa, Vitório e Junião também aparecem em outra gravação e o tema continua sendo as secretarias municipais, inclusive com um tipo de plano para após a eleição.

No diálogo, Junião diz para Maísa: “Sabe esse sufoco todo que se tá passando? Se acha que o André (Siqueira) passa esse sufoco, ele tem a secretaria à disposição dele (Maísa concorda com a afirmação dizendo “lógico que tem”). É isso, nós temos que ter uma secretaria”. Ele continua dizendo no decorrer da conversa que “nós podemos negociar a secretaria com ele após a eleição”. Vitório Responde que “mas isso ele já falou que dá”.

Junião continua dizendo que “ganhamos a secretaria acabou o problema, é o jogo, essa porr… desse jogo, sabe aquele negócio que se pediu pra ele pra pôr o lanchinho na Secretaria de Educação, é esse o jogo que tudo munda faz, não pode pedir”.

R$ 200 mil

Em outra conversa vazada, o diálogo é entre Mino Nicolai (MDB), presidente da Câmara Municipal, juntamente com Maísa, que estava gravando tudo. Nesse diálogo, de certa forma, Mino cobra explicações de uma suposta divisão de R$ 200 mil.

“E essa história do dinheiro é uma coisa que pega mal e sai conversa aqui de dentro. A Maísa foi procurar o fulano, o Junião foi junto, pediram dinheiro. Sabe o que falaram, que vocês tinham pedido 200 mil”, disse Mino, que continuou explicando que “chegou a conversa pra mim, o Junião veio aqui falar, falei Junião a Maísa pediu o dinheiro lá?  Você me fala pelo amor de Deus. Ai eu chamei a Beth, falei Beth vocês pediram dinheiro lá? O que chegou pra mim aqui que vocês pegaram R$ 200 mil na mãos, foi R$ 70 mil pra Maísa, R$ 100 mil pra Beth e R$ 30 pra você”.

Maísa gravou outra conversa com Mino, dessa vez, com reclamações dos valores dos salários do vereadores e que era necessário aprovar a nova remuneração (que seria de quase R$ 10 mil mas acabou não sendo aprovado).

Mino diz: Se você acha que nós temos condição de ser eleito, vamos se preocupar com o que eu to falando pra você. Vamos aumentar esse salário. Se nós não vier aqui, pau no … dos prejudicados. Se nós voltar aqui acerta a vida Maísa, ai é outra história, nós vamos ter tempo pra correr atrás da coisa, vai ter quatro anos pra pedir orçamento”.

Racha

Outra conversa vazada mostra um “racha” entre as vereadoras Maísa e Beth. Maísa diz: “Falei Beth o que aconteceu na reunião sua e com o Toninho? Ela falou eu fechei com o Toninho. Fechou o que Beth? Eu vou sair como vereadora porque se eu não sair agente não elege o Mino e talvez o André”. “O André até tem possibilidade porque ele paga os outros”, completa Maísa.

“Falei Beth, depois de tudo que a gente vivenciou, o André falou mal de você, roubou projeto seu, o Mino já falou na sua cara que você é uma burra, você vai sair para ajudar ele, eu falei, não tô acreditando você tá traindo a gente”.

Maísa

No vídeo gravado pela vereadora Maísa, o qual ela assume a autoria das gravações, ela explica que em meados de 2023 teve um período de uma “fase brigada com meu grupo político” e que “hoje eu resolvi abrir o que aconteceu”. Ela disse que tudo será resolvido na justiça e que as autoridades e seus advogados já estão trabalhando no vazamento dos áudios.

“Eu conheci uma pessoa da oposição e essa pessoa é um funcionário público e ele me disse: Maísa, toda vez que você for conversar com alguém que você acha que possa vir a te prejudicar e ameaçar grava essa conversa, e eu gravei”. Maísa ainda disse que chegou a gravar conversa de uma hora e meia até duas horas com Mino, confirmou as gravações com Junião e Vitório e também uma gravação pequena com a vereadora Beth Manoel.

A vereadora também disse que “de uma conversa surgiram diversas montagens” e que tudo seria parte de um “crime cibernético”. “Alguns áudios foram invertidos, eles foram refeitos e tem muita coisa que não é verdadeira”, disse.

Maísa disse que de certa forma se surpreendeu quando viu os vídeos. “Que eu me recordo que quando eu gravei essas conversas eu já tinha ido pro lado de lá, e tinha tido conversas que eu resolvi voltar, porque eu tenho os meus motivos”.

A vereadora em sua explicação disse que gravou “essas conversas foi por precaução”, que “essa pessoa me influenciou” e que foi “ingênua e acabei caindo nessa situação”. Maísa disse que o funcionário público a procurou querendo o gravador de volta. “Era um gravador minúsculo pessoal era uma coisa pequenininha que coloca dentro da bolsa ou dentro do bolso”. Maísa nesse momento de seu vídeo afirma novamente que “eu gravei essas conversas”.

A vereadora disse que foi devolver o aparelho e, inclusive, ela teria gravado entrando e saindo da casa da pessoa e o “contexto”. Ela explicou que o servidor teria baixado os arquivos que ela tinha gravado em um pen drive, dizendo que estava tudo salvo, porém, segundo a vereadora, não tinha nada no dispositivo. Ainda conforme foi falado, Maísa diz que após essa situação que começaram a aparecer os áudios e vídeos e que era o servidor, o qual ela não identificou, que estaria produzindo tudo.

O Tribuna de Itapira, desde o primeiro momento, estava aguardando o desfecho das investigações pelas autoridades municipais. Porém, com a divulgação da autora, que as gravações eram suas, o assunto pode ser devidamente abordado nessa reportagem.

Envolvidos responderam ao Tribuna sobre as gravações

Após a confirmação por parte da vereadora Maísa de que ela teria sido a responsável por fazer as gravações e ser possível abordar o tema, o Tribuna entrou em contato com todos os citados e envolvidos, buscando a devida transparência e dando a oportunidade para que cada um desse a sua versão.

Vitório

Ronaldo Vitório destacou que tem 45 anos de idade e metade de sua vida foi dedicada à Guarda Municipal e a proteger o cidadão. “Nunca fui autuado ou investigado, sempre fui aquele que esteve na linha de frente do combate ao crime e todos sabem disso”. Vitório também disse que em sua fala deram uma “cortada e editada” para dar a entender que estariam tendo os desvios. “A Guarda nunca esteve tão bem como está hoje”, concluiu.

Junião

Já Junião, que também respondeu o contato da reportagem, afirmou que tudo foi tirado de contexto, principalmente quando é citado a questão das secretarias. “Não existe isso de aparelhagem, é uma montagem o que fizeram”. Ele também destacou que seriam conversas antigas, quando nem estava oficializado o partido o qual hoje é presidente. “Já tá na mão da Justiça, tudo será provado”.

Beth

Beth Manoel também retornou o contato, dizendo que tudo o que foi falado sobre sua pessoa foi invenção. “Isso não existe, eu não tenho lote nenhum e apoio ao prefeito é para a campanha, somente isso. O valor também saiu da boca dela. Ela vai ter que provar tudo, já foi feito o B.O.”. “Eu zelo pelo meu nome e tudo o que tenho conquistei com a vida”.

Mino

Mino disse estar “indignado” e o fato de a vereadora ter se disposto a gravar a conversa foi uma “traição”, por ser colega de bancada. “Eu não esperava por isso e tudo afetou minha vida particular. Eu ando na rua e quem me pergunta sou bem claro e transparente”. Mino também reforçou que a conversa em que foi gravado foi editada. “Aquela conversa que fala de valores foi tudo separada, feita em mais de um momento, ai pegaram juntaram tudo, depois inventaram até questão com minha mulher que é um absurdo”.

André

André Siqueira frisou que não tem nenhuma fala sua nos áudios e sim das outras pessoas que o citaram. Ele enviou à reportagem os documentos que mostram que ele fez o B.O. em cima do caso. “Eu entrei na Justiça e agora cada um vai ter que provar o que fala. Vou deixar pra Justiça resolver, quero ver eles provarem as coisas”. O vereador concluiu dizendo que todas as afirmações não são verdadeiras.

Toninho

A reportagem enviou questionamento ao Prefeito via assessoria de comunicação e, até a publicação desta reportagem, Toninho Bellini foi o único que não se manifestou e nenhuma resposta foi enviada.

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