A rotina da Secretária de Escola Tânia Oliveira se divide entre o trabalho e os cuidados com o filho Danilo Jean de Oliveira, de 06 anos, que foi diagnosticado como portador da chamada síndrome AH/SD (altas habilidades/superdotação).

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Ao contrário daquilo que geralmente supõe a maioria das pessoas, a condição do pequeno Danilo não acrescenta a ele algum tipo de vantagem individual com relação a crianças da mesma idade com as quais convive.
Ao contrário, exige uma atenção diferenciada do ponto de vista clínico e pedagógico, dados os desafios que uma criança com essa particularidade enfrenta no seu dia a dia.

A mãe afirmou ter percebido pela primeira vez, quando Danilo ainda tinha 18 meses de idade, que ele era uma criança com habilidades extraordinárias, e desde então tem se desdobrado para que o menino tenha acesso a um atendimento especializado que minimize os problemas decorrentes da condição por ele apresentada.

Informou que partir do momento em que teve o diagnóstico correto da condição excepcional do filho – com a ajuda de atendimento psicológico especializado – passou a estudar o assunto com maior profundidade, na tentativa de compreender melhor a realidade de Danilo.

Contou que essa fase foi bastante delicada, pelo motivo dos sintomas remeterem a outras síndromes como é o caso do autismo e da hiperatividade. “Fui ter certeza realmente do quadro dele somente após exaustivos testes, todos feitos com ajuda de uma profissional da área da psicologia”, contou.

A mãe revelou também durante conversa com o JORNAL TRIBUNA DE ITAPIRA que se espantava com habilidades que Danilo exibia desde muito pequeno. Segundo ela, com dois anos ele já lia e soletrava palavras. Demonstrava capacidade incrível principalmente no manuseio de um teclado musical.

Na medida em que Danilo ia crescendo, as habilidades que ele possui iam se tornando mais evidentes e se tornando mais desafiadoras diante da constatação que iria precisar de uma atenção especial, proporcional ao quadro que apresentava. São pessoas, as quais, via de regra, necessitam de orientação, estruturação e planejamentos adequados que deem sustentação ao seu desenvolvimento psicoemocional e organização cognitiva.

Escola

O ingresso de Danilo na pré-escola se deu em plena pandemia, ou seja, atividades remotas por causa das medidas de isolamento e distanciamento social. Ao atingir idade, nesse ano, para ingresso na rede municipal de Ensino Básico (EMEBs) a mãe cuidou para que fosse matriculado na EMEB “Heitor Soares”, onde trabalha.

Concomitantemente, encaminhou à Secretaria Municipal de Educação um pedido para que Danilo possa receber atividades complementares. “A própria Secretaria de Educação precisou se adaptar à nova circunstância porque nunca havia recebido um pedido deste tipo. O processo de criação do atendimento especializado está em andamento”, informou a mãe.

A convivência com as demais crianças nem sempre ocorre de forma harmoniosa, por causa da falta de entendimento dos colegas a respeito das habilidades demonstradas pelo menino. Tânia explica que é como se ele estivesse apto a acompanhar a rotina escolar de um pré-adolescente. “Ele realiza as tarefas dadas pela professora com velocidade sempre muito maior do que os demais alunos. Via de regra, fica intrigado quando um coleguinha não consegue realizar a tarefa e passa a fazer questionamentos”, elencou.

Sintonia

Essa falta de sintonia acaba, inevitavelmente, provocando alteração de humor no garoto, que passa a demonstrar sinais de irritabilidade “uma forma de chamar a atenção”, segundo Tânia, quando não tem preenchida suas expectativas. A mãe mostrou para a reportagem uma gravação de vídeo onde Danilo exibe seus dotes no teclado, executando, melodias com incrível facilidade, tendo ouvido a música apenas uma vez. Ela avalia que a música o acalma e essa é a área de conhecimento com a qual melhor lida.

Ativismo

Tânia Oliveira relatou ainda que tem procurado por outras crianças na mesma situação, aqui em Itapira. Na medida em que se aprofundou no assunto, descobriu, por exemplo, que no Brasil de cada 100 crianças nascidas, uma tem AH/SD. “Onde estão as outras?”, pergunta, lembrando que a cidade tem quase 80 mil habitantes. Somente no estado de São Paulo, ela calcula que sejam mais de duas milhões de crianças nessas circunstâncias. No Brasil todo seriam perto de 5 milhões, segundo seus cálculos.

Questionada se teria alguma ideia a respeito da ausência de crianças identificadas com esse tipo de habilidade, a mãe disse que provavelmente muitas delas tenham sido diagnosticadas com hiperatividade ou mesmo com autismo. Esse quadro, conforme mencionou, pode também ser contornado com a indicação por neurologistas de ansiolíticos, que acabam funcionando como um paliativo em casos onde essas crianças exacerbam seu comportamento. Ela própria admitiu que usa deste expediente quando o filho apresenta algumas crises de ansiedade.

Longe de se conformar com a situação, Tânia se tornou uma espécie de ativista da causa. Usa frequentemente as redes sociais para se posicionar e até criou uma página no Instagram para popularizar o assunto, disposta a ajudar outras mães com o mesmo problema. Nesse ponto ela justificou sua decisão em tornar público o caso de Danilo, recorrendo ao TRIBUNA. “Agradeço muito essa abertura. Falei com algumas mães e ficaram radiantes em saber que consegui esse espaço na mídia. Creio que através dessa reportagem surgirão outros casos de crianças que poderão ser ajudadas”, completou.

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