Um tema que durante muito tempo foi refém de preconceitos e que acabou virando um tabu é o consumo de suplementos alimentares. Sempre muito ligado a praticantes de musculação, algumas substâncias chegaram a ser até proibidas no Brasil durante muitos anos mas, o que se tem observado durante os últimos tempos no país, é uma maior liberação por parte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e um aumento expressivo nas mais diversas linhas de suplementos que, inclusive, estão sendo indicados cada vez mais por profissionais da área de saúde. Para discorrer sobre o tema e expor essa realidade em Itapira, o Tribuna foi conversar com profissionais da área médica, nutricional e comercial.

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O aumento do consumo por parte dos brasileiros foi observado em pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD), que registrou importantes mudanças no comportamento do consumidor durante a pandemia do novo coronavírus. Em 2020, pelo menos uma pessoa consumiu algum suplemento alimentar em 59% dos domicílios do país, um aumento de 10% em relação à primeira pesquisa realizada em 2015.

Além da pesquisa principal, foi feito um estudo mais específico sobre o consumo durante a pandemia da COVID-19. Dentre as pessoas que já consumiam suplementos alimentares, 48% aumentaram seu consumo durante a quarentena, sendo que 42% consumiram visando complementar a alimentação e 91% fortalecer a imunidade. Destes, 70% declararam que continuarão consumindo os produtos, mesmo após o fim da pandemia. Ainda segundo a Associação, 51% das recomendações para o consumo de suplementos são feitas por profissionais de saúde.

MEDICINA

Os suplementos alimentares estão diretamente ligados a uma melhora e manutenção das condições de saúde física. Para o médico, Dr. Pedro Orrú Neto, com especialidades em Ortopedia e Medicina Esportiva e atuação na Clínica Orrú e RedBull Bragantino, as indicações estão sendo feitas tanto para atletas como para idosos.

“A perda de parte da massa muscular e, consequentemente da força física, é normal conforme os anos vão passando. Contudo, perdas extremas, reduzem a qualidade de vida, aceleram o envelhecimento e aumentam o risco de quedas e lesões, principalmente nos joelhos, quadris e tornozelos. Quando pensamos no idoso, a perda de massa muscular – Sarcopenia – pode gerar dificuldades para realizar atividades do dia a dia, como segurar sacolas, ir à padaria, manusear objetos e até higiene pessoal. Além disso, ele começa a apresentar mais dores, já que seu corpo não tem quantidade ideal de massa muscular para ajudar na sustentação do corpo”, explicou Orrú.

“Muitas vezes, apenas a alimentação não é suficiente para suprir as necessidades nutricionais e protegê-los contra doenças e complicações. Dessa forma, a suplementação entra como solução eficaz devido sua facilidade de consumo e capacidade de absorção pelo organismo. Podemos citar como um grande aliado nos quadros de sarcopenia o uso de bebidas proteicas como o Whey Protein, o uso sob orientação da creatina, beta alanina, entre outras vitaminas essenciais quando necessitado e sempre lembrando do básico, uma boa alimentação balanceada e cuidados com a hidratação”, concluiu.

Orrú: indicações são tanto para atletas como para idosos

NUTRIÇÃO

Segundo a Nutricionista e Doutora em Ciências da Nutrição e Do Esporte e Metabolismo pela Unicamp, Thamiris Candreva Robles, o aumento no interesse dos pacientes em suplementação vem crescendo e, apesar de terem diversos objetivos, seu foco é priorizar a saúde.

“No dia a dia do consultório percebo cada vez mais um interesse da parte dos pacientes em suplementar. Fico me perguntando se é um reflexo da sociedade, na qual virou “moda” tomar suplementos, ou, se realmente há uma necessidade em atingir algum objetivo nutricional. Percebo também que muitos profissionais da saúde estão suplementando os seus pacientes sem necessidade evidente ou mesmo respaldo. Digo, sem consciência de dosagem/tipo de suplemento/momento a tomar. Eu como nutricionista, sempre priorizo a saúde. Sou a favor da suplementação em diversas condições, mesmo porque, elas são legalizadas e existem para beneficiar o paciente. Entretanto, é de suma importância que haja uma compreensão do estado de saúde do paciente e da sua realidade alimentar”, explicou Thamiris.

Ainda segundo a Nutricionista, a alimentação deve ser a base da dieta das pessoas. “Os suplementos são “complementos”. A base ainda é e deve ser a alimentação. O que vem acontecendo é uma substituição e não complementação. Devido à praticidade dos suplementos, o paciente ou mesmo profissional da saúde, acaba optando por ofertar o suplemento ao invés de um alimento. Ao mesmo tempo que é um recurso nutricionalmente seguro e eficaz, me questiono e me preocupo com o distanciamento da alimentação natural. O ato de preparar uma refeição e realizar esta com tranquilidade é essencial para concretizar hábitos alimentares saudáveis. Acredito que é por este e outros motivos que a nutrição hoje em dia é reflexo de cápsulas, suplementos e “delivery””, concluiu.

Thamiris: os suplementos são “complementos”

VENDAS

Esse aumento do consumo foi sentido pelo mercado de suplementos, tanto o nacional como o internacional. Lojistas locais perceberam o aumento da procura e também a falta de produtos por parte das distribuidoras em alguns períodos. Para o proprietário da loja Planta Ação, comércio especializado em alimentação saudável, Luiz Fernando Caetano Francisco, a mudança pode ser observada logo após o início da pandemia.

“Antes da pandemia era normal entrar, principalmente pessoas de mais idade, olhar para a parte de suplementação, que basicamente é um setor novo no Brasil, e dizer “vocês tem esses anabolizantes aqui”, e agente sempre explicou que não é disso que se trata informando a pessoa corretamente sobre o uso do suplemento. Começou a pandemia notamos o aumento no consumo. As pessoas começaram a perceber que, em uma fase difícil dessa, de uma doença nova, estavam sofrendo mais as pessoas que não se cuidavam. A pandemia acendeu esse alerta, criando o interesse em hábitos mais saudáveis e na suplementação, principalmente vitaminas ligadas ao aumento da imunidade”, comparou Fernando.

“Com as pessoas fazendo mais exercícios o consumo de suplementos consequentemente aumentou. Com o aumento da demanda e devido ao fato de diversos suplementos possuírem matéria prima importada, a mesma começou a faltar e com isso os produtos. Esse foi um fato que gerou um aumento de preço e também falsificações”, concluiu.

Caetano: cuidados aumentaram na pandemia

Para Fábio Salgado Vernucci, comerciante de suplementos alimentares de longa data em Itapira, esse aumento no consumo acende um alerta para os pontos de venda, que passaram a ser também em supermercados, locais em que as pessoas acabam comprando sem orientação. “Aumentou muito a quantidade de pessoas que nunca tinham entrado em uma loja de suplementos para comprar, principalmente pessoas de idade, devido a médicos estarem receitando whey protein e creatina. Agora, em relação à venda em supermercados, em sou contra. Local onde não tem ninguém para orientar sobre a compra e uso correto. Vejo muitas pessoas comprando errado, sem saber”, opinou Salgado.

Salgado também alerta para produtos com o preço muito em conta hoje em dia. “Os preços subiram, agora que está normalizando um pouco, como é o caso da creatina. Faço sempre alertas para as pessoas, creatina ou outros suplementos muito baratos, fora do padrão, deve-se desconfiar”, concluiu.

Salgado: atenção com suplementos muito baratos

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