Momento de grande importância espiritual e de fé para os cristãos, a Quaresma, período do ano litúrgico que antecede a Páscoa, terá início nessa quarta-feira, dia 14, sendo marcada por uma forte evangelização a partir da igreja e momento oportuno para conversão e mudança de vida por parte das pessoas, para que essas encontrem os ensinamentos do evangelho de Jesus Cristo e entendam que a verdadeira vida é a espiritual.

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Para abordar de maneira profunda esse tema, o Tribuna de Itapira conversou com Dom Pedro Paulo Teixeira Roque, Bispo Coadjutor da Diocese de Jundiaí-SP, da Igreja Católica Apostólica Brasileira, e o responsável pelas celebrações das missas na Paróquia Divino Espírito Santo, localizada na região do Istor Luppi, e que cada vez mais vem mobilizando fiéis na cidade.

“A quaresma é um período espiritual, é um tempo espiritual que se inicia na quarta-feira de cinzas e vai até o Domingo de Ramos. Neste ano de 2024, inicia-se em 14 de fevereiro e se estende até 24 de março, sábado, véspera do Domingos de Ramos, que, por sua vez, inicia a Semana Santa. São 40 dias onde o foco da Evangelização promovida pela igreja é o chamamento da sociedade a conversão”, destacou Dom Pedro.

Segundo o Bispo, muitos cristãos evangélicos “não observam a quaresma por considerarem ser uma possível herança católica ou ainda por discordâncias teológicas ou simplesmente religiosa”. Em sua análise pessoal, Dom Pedro explicou ao Tribuna que acredita “que o tempo da quaresma é um dos mais significativos, principalmente em nossos dias, considerando os acontecimentos mundiais, porque entendo que realmente precisamos nos voltar, enquanto humanidade, ao Evangelho de Jesus”.

Ele explicou que a Quaresma chega para ser uma oportunidade de mudança de vida para as pessoas e que estas encontrem o verdadeiro caminho da vida espiritual. “É um período no qual nossa igreja ergue sua voz para chamar os povos a mudança de vida, ao entendimento sobre a obra salvífica de Nosso Senhor Jesus Cristo. A obra realizada pelo Senhor Jesus Cristo durante os 33 anos de sua vida foi mostrar ao mundo – e não somente a um povo – a realeza e a majestade de Deus sobre o mundo, desta forma Ele mostra à humanidade que a vida aqui no planeta Terra não é a verdadeira vida, mas tão somente uma parte de nossa existência; a vida espiritual é a verdadeira vida! A quaresma clama para que a humanidade tenha esse entendimento; que a partir do Evangelho do Senhor Jesus Cristo os valores de nossa vida terrenal sejam pautados pelos Seus ensinamentos, que possamos viver em nossa sociedade com os valores, com os ensinamentos e com a espiritualidade que o Senhor Jesus Cristo nos deixou”.

Objetivos

O Tribuna quis saber qual objetivo que os cristãos devem procurar ao realizar a quaresma. Prontamente Dom Pedro respondeu “a santidade”. De acordo com sua explicação, desde muito antigamente, a quaresma é caracterizada por um tempo difícil, marcada por uma guerra espiritual, já que a igreja se reveste da autoridade de Jesus Cristo e chamar as pessoas para uma vida nova a partir do evangelho. Sendo assim, forças espirituais poderosas se levantam contra essa missão.

“A missão da Igreja de Jesus Cristo fica mais evidente na quaresma: ela clama à sociedade mundial a necessidade de uma mudança na vida pessoal, social, espiritual. É claro que entendemos que haverá um levante de ideias, de argumentos e de questionamentos ao que fazemos; esses levantes implicam em relativizar o Evangelho. A verdadeira conversão não é uma pessoa aderir a uma igreja ou religião, mas, para nós cristãos, é a pessoa professar sua fé em Jesus Cristo, em seu poder Salvador e a partir disso ter uma vida nova. E o levante do mal age exatamente nesse ponto, ou seja, para fazer com que a pessoa não entenda quem é o Senhor Jesus. A quaresma é um tempo de santificação, de nós nos voltarmos mais para o sagrado, para o Divino; é um tempo onde podemos rever nossas condutas, é um tempo de perdão, é um tempo de pedirmos perdão a Deus pelos rumos que a humanidade desenvolve em relação a tudo o que piora a vida pessoal e coletiva, bem como a do próprio planeta. Sem santificação não chegaremos a Deus”.

Em prática

Assim como afirmou Dom Pedro, muito da Quaresma foi relativizado “por costumes menos espirituais e por campanhas que foram focadas em temas sociais e políticos”. Porém o bispo também disse que observa “uma geração nova que quer saborear os ensinamentos bíblicos e estão procurando conhecimentos e respostas existenciais na fé cristã” e que nessa Quaresma “haverá uma participação mais profunda e espiritual”.

Levando em consideração a importância do período e também em relação a essa “nova geração” citada por Dom Pedro, o Tribuna solicitou ao Bispo uma explicação de como as pessoas possam realizar a Quaresma de forma correta e verdadeira, para conseguirem alcançar os objetivos.

“Para que haja conversão e para que, vivendo nós ainda na carne, possamos ter experiências com o Reino dos Céus, nesse tempo de quaresma falamos sobre o jejum e orações mais intensas. O jejum, além de ajudar o corpo físico a se equilibrar, é visto pelos cristãos como uma poderosa arma espiritual. O jejum trabalha também os nossos sentidos para que estejamos mais atentos ao espírito. Não se trata de apenas não comer carne às quartas e sextas-feiras. O jejum é uma prática onde, por um período determinado, que pode ser de horas ou dias, a pessoa se abstém de algum alimento como forma de um sacrifício pessoal reparador ou, ainda, pode abster-se por um período determinado pela sua fé pessoal, de todos os alimentos para que, nesse período, ela se dedique mais a oração, a meditação sobre o Evangelho, ao estudo das Sagradas Escrituras ou ainda, a uma oração de intercessão, oferecida a Deus, para que a Divina Misericórdia ajude o processo de conversão de uma pessoa ou do próprio mundo ao senhorio de Jesus Cristo”.

Porém, Dom Pedro chamou atenção para alguns pontos em relação à situação de jejum. “Lembro que o jejum deve ser programado: não recomendo que se abstenha de água; se o jejum for um período de um dia, que a pessoa se alimente, em horas programadas, apenas de pão abençoado. No dia em que se jejua, deve-se ter uma intenção especial de oração, deve-se afastar das redes sociais, e, sendo possível, ficar mais recolhido em oração orientada pela Sagrada Escritura. É uma excelente oportunidade para rever as escolhas feitas na vida, para se propor um novo objetivo e para avaliar como se está vivendo o tempo de sua existência”.

Carnaval

A reportagem também questionou o Bispo sobre a situação do carnaval, a maior festa popular brasileira, que antecede esse período de busca a conversão, penitência e encontro do verdadeiro propósito nesta vida pelos cristãos. Dom Pedro abordou de forma bem clara a representação do carnaval atualmente e o conflito com o que representa a Quaresma.

“Tradicionalmente os períodos sagrados da vivência e da celebração dos mistérios cristãos são marcados por um calendário que se baseia em fases lunares. A quaresma é um período de preparação profunda para o maior mistério da fé no Senhor Jesus: o Seu sofrimento e sua Páscoa, ou seja, a Sua vitória sobre os sofrimentos e a própria morte. Porque a Páscoa é, por definição, o primeiro Domingo após a lua cheia que ocorre após o equinócio vernal, a data da quaresma também é móvel. Abre-se o período da quaresma com a imposição de cinzas especiais sobre a cabeça da pessoa para lembrá-la, segundo a Bíblia ensina, que somos pó (vivificados) e um dia voltaremos ao pó! É um convite para que se considere a própria vida a partir da reflexão: “tenho vivido de forma correta minha vida?” O fato da abertura da quaresma ser após o carnaval não significa que o cristão tem um “licença especial para pecar e depois se voltar ao sagrado””.

“A verdade precisa ser dita: o carnaval tem se tornado uma exaltação de valores extremamente anticristãos. Não há nada de santo no carnaval, nada que agrade a Deus, nada que efetivamente promova a fé no Senhor Jesus Cristo, nada que se relacione com a fé no poder salvador de Jesus Cristo. Tenho trabalhado muito em nossas paróquias para esse despertar de consciências: o cristão vive nesse mundo pelo poder de Jesus em sua vida e o carnaval nega isso. Pessoalmente, não gosto do carnaval e não incentivo nenhum de nossos fiéis a tomarem parte em celebrações carnavalescas por entender que isso tudo é contrário à mensagem cristã e católica”, concluiu Dom Pedro.

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